E-book GLOBAL MANGUE – Anais do Fórum Internacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais
Confira o conteúdo do E-book Global Mangue
Apresentação
Entre os dias 17 e 20 de outubro de 2023, Maragogipe, na Bahia, sediou o Global Mangue – Fórum Internacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais, cujo propósito foi o de realizar um amplo debate e construir propostas, compiladas nesta carta, em torno de diversos temas inerentes à promoção da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável em regiões com manguezais.
O evento, organizado pela Fundação Vovó do Mangue, reuniu diversos atores sociais, como cientistas, agentes dos poderes estabelecidos, professores, estudantes, ambientalistas e comunidades tradicionais. Proporcionou um ambiente único e enriquecedor, fomentando o diálogo e a troca de conhecimentos sobre conteúdos científicos diversos, experiências de conservação bem-sucedidas e abordagens educacionais eficazes.
A diversificada programação abordou questões prementes relacionadas aos temas trabalhados, desde a mudança climática e as condições da biodiversidade, até a necessidade do fortalecimento social e econômico das comunidades tradicionais, possibilitando visualizar caminhos para a revisão e proposição de políticas públicas que promovam a educação ambiental, a conservação da qualidade de vida, em todas as suas formas, e o desenvolvimento sustentável em áreas de manguezal.
A cidade de Maragogipe, inserida num rico e belo estuário, serviu como um cenário inspirador para este fórum. Participantes foram imersos em importantes e envolventes discussões e debates, proporcionando uma experiência que transcendeu as barreiras da teoria para incorporar a prática na preservação dos manguezais.
Foi também apresentada uma retrospectiva dos principais movimentos e iniciativas da aplicação da educação ambiental em regiões com manguezais no Brasil nos últimos 30 anos, avaliando-se, principalmente, os impactos gerados pelos “Encontros Nacionais de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais” (ENEAAM’s) – sete eventos realizados durante esse período em diversas regiões do país e com Maragogipe tendo organizado o primeiro, em 1993.
Outro destaque foi a participação da expedição DARWIN 200, cujo propósito foi seguir os passos de Charles Darwin pela América do Sul, revisitando os lugares onde o cientista coletou informações e encontrou inspiração para a sua teoria da evolução. Na oportunidade, os membros da expedição, chefiada pelo geógrafo britânico Stewart McPherson, puderam compartilhar suas experiências com o público presente.
Ao final do Global Mangue, os participantes emergiram com uma compreensão aprofundada do papel vital dos manguezais para a nossa sociedade e um compromisso renovado com a implementação de ações concretas em diversas comunidades. Este evento não apenas promoveu a sensibilização, mas também catalisou colaborações em nível internacional para enfrentar os desafios urgentes que ameaçam ecossistemas fundamentais. Não foi apenas um fórum, mas sim um marco significativo na jornada contínua para preservar e proteger nossos manguezais, impulsionando uma mudança positiva que, com certeza, ressoará por gerações futuras.
O evento, que foi transmitido ao vivo através de uma plataforma de streaming na internet, contou com cerca de seiscentos inscritos e com a participação de representantes de seis países (Brasil, Costa Rica, Estados Unidos, Grã-Bretanha, México e Portugal) e de oito estados da federação (Bahia, Alagoas, Distrito Federal, Pará, Paraná, Piauí, Santa Catarina e São Paulo).
Luiz Carlos Brasileiro de Andrade
Coordenador Geral
Solenidade de abertura
GLOBAL MANGUE
Fórum Internacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais
Data: 17/10/2023 – Terça-feira
Local: FUNDAÇÃO VOVÓ DO MANGUE
Horário previsto: 08h30
Atividade: Solenidade de abertura
Horário de início: 9h55
Apresentação do vídeo institucional de apresentação do Global Mangue
Mestre de cerimônias, Vitor Santana, contextualiza os objetivos do evento e o território em que estamos inseridos. Ressalta a celebração dos 30 anos do ENEAAM e a celebração da importância do mangue. Cita que os estados da Bahia, Alagoas, Brasília, São Paulo, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e os países da Costa Rica, Portugal, México, Estados Unidos são participantes do evento.
Anuncia uma celebração ecumênica e cada uma das autoridades religiosas em sequência:
Pastor Manuel Jackson dos Santos, Representante do Conselho de Ministro Evangélicos de Maragogipe, saúda o prefeito e as demais autoridades presentes. Lê um versículo da bíblia, faz uma oração e convida a todas a se levantarem para isso. Abençoa a todos
Rita Cristina – Centro Kardecista Nosso Lar. Saúda as autoridades presentes e representadas. Fala um pouco da sua doutrina e lê a letra de uma música de Nando Cordel, poeta, que fala sobre paz.
Diácono Alan Barcelar – Paróquia de São Bartolomeu de Maragogipe. Saúda todas as autoridades, convidadas e participantes. Lê parte das gênesis da bíblia, fala sobre a visão da igreja católica da importância da natureza e a necessidade do enfrentamento aos eventos decorrentes das crises climáticas. Ressalta a necessidade de diálogo e solidariedade para soluções reais para esse grande problema. Fala sobre a defesa do meio ambiente empreendida pela Igreja Católica, cita a Carta Encíclica Laudato Si,do Papa Francisco. Lê as palavras de São Francisco de Assis, que são inspirações para essa defesa da natureza.
Babalorixá Robinho de Otyn – Ilê Alabasé – inicia com toques de atabaques, com saudação a Nanã. Saúda todos que estão presentes no evento. Fala sobre a Fundação Vovó do Mangue, que surgiu em 08/05/97, a importância de suas missões e pergunta sobre a escolha do nome. Será que se deu por conta de uma intuição, uma visão ou a visão de uma ancestral que também está ali. Saúda em ioruba todos os presentes e representados, os organizadores do evento. Conta mais detalhes sobre Nanã Buruku, a mãe terra primordial, e todas as qualidades e simbologias que a envolvem para os diversos povos africanos. Toca e canta para Nanã com os filhos e filhas da casa, abençoa os presentes espalhando folhas.
Mestre de cerimônia retoma a fala, constatando que estamos todos abençoados independente da religião. Convidada as pessoas que vão compor a mesa solene.
Composição da mesa solene:
- Suboficial Bernardino da Silva Neto, representante da Capitania dos Portos;
- Airton Miguel de Grande, Instituto Brasileiro Meio Ambiente Recursos Naturais Renováveis – IBAMA;
- Maricéia da Silva Villas Boas, representante do Grupo de Organizadores dos ENEAAM’s;
- Taise Bonfim de Jesus, Universidade Estadual de Feira de Santana;
- Fredson Marques de Souza, Presidente da Colônia de Pescadores Z-07 de Maragogipe;
- Antônio Carlos Carneiro, Secretaria de Serviços Públicos, Transportes e Meio Ambiente de Maragogipe;
- Ana Cláudia Barbosa, Secretaria Municipal de Educação de Maragogipe;
- MM. Juiz Raimundo Nonato Braga, Núcleo Socioambiental do Tribunal de Justiça da Bahia;
- Roberto Leite – Presidente da Câmara Municipal de Maragogipe;
- Tiago Porto, Represente do Governador do Estado da Bahia;
- Luiz Carlos Brasileiro de Andrade, Diretor Geral;
- Valnício Armede Ribeiro, Prefeito de Maragogipe.
Mestre de Cerimônia – Saúda todas as secretarias presentes, todos os municípios, órgãos colaboradores e comunidades tradicionais. Chama para fala, em sequência:
Airton Miguel de Grande – Instituto Brasileiro Meio Ambiente Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, agradece a presença e ressalta a importância do evento. Expectativas do evento, é que partindo de um consenso da importância do meio ambiente e mais especificamente os manguezais, tendo vários espectros da sociedade representada ali deseja que saiam desse encontro com um pacto da necessidade de ação. Deseja que possam construir como cada um deve agir na preservação, um pacto costurado para a conservação e permanência desse importante ecossistema.
Mauríceia Villas Boas – uma das organizadoras do ENEAMS. Cumprimenta a todas, ressalta a felicidade de estar ali.
Taíse Bonfim de Jesus, Universidade Estadual de Feira de Santana. Fala do orgulho de estar parceira desse evento e a importância da participação das universidades públicas baianas nesse evento e em levar adiante as pesquisas e ações necessárias a preservação do mangue.
Fredson Marques de Souza, Preto da Colônia de pescadores de Maragogipe, população tradicional extrativista. Fala que eles, população ribeirinha, têm muito a agradecer à Fundação Vovó Mangue e Carlinhos de Tote pela contribuição que deram durante os últimos anos. Coloca que durante o evento vão divergir, que sem a divergência não vão ter construção, vão ter temáticas acaloradas. Celebra Maragogipe novamente é protagonista nessa temática e que é considerada a Capital Nacional da Educação Ambiental em Áreas de Manguezais. Deixa um abraço e faz uma sugestão, que ela tome corpo ao dar inserção dessa temática no ensino fundamental, não só isso como cultua arte, lazer, esporte. Pede tanto ao executivo quanto ao parlamento do município que se comece essa construção, isso como sugestão da população tradicional e da Colônia de Pescadores Z – 07, de Maragogipe. Deseja que possam ter um plano de manejo de uso sustentável da RESEX Marinha, salientando que é importante saber que vão divergir, porém, vão sair com grande construção.
Bernardino da Silva Neto – Capitânia dos Portos da Bahia, agradeceu ao estado, ao prefeito, à fundação, autoridades civis, militares e todos os presentes. Pontua que não conhecia muito dessa temática específica, dos manguezais, mas que trabalha para a segurança e salvaguarda da vida humana no mar e evitar poluição de rios e mares. Por desconhecer esse assunto, está ali também para aprender e transmitir aos pares esses conhecimentos adquiridos. Representando a Marinha.
Antônio Carlos, Secretário Municipal de Serviços Públicos, Transporte e Meio Ambiente, cumprimenta a todas e se apresenta como maragogipano nato, que vem de família de pescadores, pai, e avô, e afirma que se criou pescando. Informa que é guarda municipal, do departamento da guarda ambiental, e que hoje está como Secretário de Meio Ambiente. Agradece a todos e deseja um bom fórum.
Juiz Raimundo Nonato Braga, cumprimenta todos os presentes e saúda o Desembargador Nilton Soares Castello Branco e a Desembargadora Maria de Fátima Carvalho. Traz alguns marcos legais que demonstram a ligação do Tribunal de Justiça com o meio ambiente e quando ele passa a se preocupar de forma científica e sistemática com as questões ambientais. Afirma que o grande marco é a Constituição de 88. Reforça que o papel do tribunal não é apenas julgar processos, e que o mesmo tem um papel muito importante em intermediar conflitos extrajudiciais.
Tiago Porto, representante do governador e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, parabeniza a organização do evento, ressalta a dedicação de Rosalvo Oliveira e reconhece pedindo aplausos. Fala da importância de falar dos manguezais e todo o potencial que eles representam dentro do contexto das ameaças que vêm sofrendo, devido às emergências climáticas. Pontua sobre a necessidade de sair do evento com uma carta que sirva de base para ações governamentais relacionadas aos manguezais. Coloca que esse é o primeiro ano do atual mandato do governo estadual e que é importante costurar ações nesse sentido. Finaliza falando da necessidade de reconexão com a natureza e com os saberes tradicionais, para um novo futuro e se coloca à disposição para construir e implementar ações que tenham como compromisso a preservação dos manguezais.
Luiz Carlos Brasileiro, Fundação Vovó Mangue, expressa sua satisfação ao ver que o evento, realizado com tanto esforço, está de fato acontecendo. Ele menciona as pessoas e instituições que ajudaram a tornar isso possível e dá boas-vindas a todos os presentes. Ele destaca que os próximos passos do evento são muito importantes e como a proposta inicial, uma comemoração dos 30 anos do ENEAAM 30 em Maragogipe, cresceu e se transformou em um encontro internacional, com a participação virtual de representantes de quatro países. Luiz Carlos ressalta que estão concentrando esforços para encontrar soluções que equilibrem o meio ambiente e enfatiza a necessidade de construir uma política de estado, em vez de uma política de governo, para alcançar esse objetivo. Ele expressa a expectativa de que as discussões realizadas no evento contribuam para a criação de novas políticas públicas.
Roberto Leite, Presidente da Câmara de Vereadores de Maragogipe, brevemente saúda o prefeito da cidade e os demais vereadores presentes. Diz sobre a importância do poder legislativo para implementar ações que protejam os manguezais.
Valnício Armede Ribeiro – Prefeito de Maragogipe, Saúda todas as pessoas presentes na mesa de cerimônia, as autoridades religiosas e todas as pessoas presentes no evento. Destaca a importância de nosso município ser a sede deste evento e a necessidade de cada um de nós empreender esforços no cuidado com o meio ambiente. Cita marcos institucionais importantes para a preservação do meio ambiente, como o direito ambiental, a Constituição Federal e as diretrizes da ONU. Informa que desde 2021, tem-se observado um avanço significativo na política ambiental no município, com a criação de uma lei municipal e a implementação de instituições como o Conselho e o Fundo Municipal de Meio Ambiente e que a prefeitura municipal realiza parcerias para a preservação do manguezal e incluímos a temática ambiental na educação. Ponde que a fiscalização e o combate ao aterramento dos manguezais são grandes desafios que enfrentamos, sendo necessário se firmar parceria com outros órgãos ambientais presentes na região para alcançar o sucesso nessa empreitada. Ressalta a necessidade de cultivar a ideia de mudança de conduta em relação ao meio ambiente na cabeça das pessoas, pensando nas futuras gerações e na humanidade. Informa que, neste dia, assinará dois atos importantes relacionados à preservação do meio ambiente.
Mestre de Cerimônia chama os demais envolvidos para assinar os dois atos junto ao prefeito. Para o primeiro, chama a Secretária de Educação para assinar o Decreto 407/2023, em que o prefeito dispõe sobre a criação de programa de educação ambiental da prefeitura de Maragogipe – BA e dá outras providências. Para o segundo, chama para acompanhar o prefeito, Bruno Barbosa Coordenador Especial de Meio Ambiente e Antônio Carlos, secretário de serviços públicos, para assinar a Portaria 1406/2023, em que dispõe da criação de Comissão de Estudos para instituir a Unidade de Conservação de Nascentes de Rios de Maragogipe e dá outras providências.
O mestre de cerimônias desfaz a mesa e dá prosseguimento à próxima etapa do evento.
Mesa 1 – A importância dos manguezais no contexto global
GLOBAL MANGUE
Fórum Internacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais
Data: 18/10/2023 – Quarta-feira
Local: FUNDAÇÃO VOVÓ DO MANGUE
Horário previsto: 10h30
Horário de início: 11h15
Atividade: Painel de abertura – TEMA – A importância dos manguezais no contexto global
Palestrantes:
Yara Scheaffer-Novelli, Universidade de São Paulo/SP [BRASIL]
Antônio Fernando Queiroz, Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão – FAPEX/BA [BRASIL]
Ricardo Campos, Fórum de Energia e Clima da CPLP [PORTUGAL]
Jorge Pineda Gomes, Sistema Nacional de Áreas de Conservación [COSTA RICA]
Claudia Teutli, Escuela Nacional de Estudios Superiores, Mérida [MÉXICO].
Yara Scheaffer-Novelli | Universidade de São Paulo/SP [BRASIL]
A professora inicia saudando os presentes e contando um pouco da sua história com a cidade de Maragogipe que começa em 1993 com o 1º ENEAAM e as ligações profissionais e afetivas que mantém até o momento. Compartilha as memórias do trabalho de educação ambiental com o Núcleo de Educação Socioambiental feito com professores municipais da época e os desdobramentos que teve com estudos empreendidos por seus orientandos. Cita o seu antigo orientando e hoje professor Dr. Renato de Almeida, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia em Cruz das Almas, ressaltando assim uma fidelidade com o território. Exalta a figura de Carlinhos do Tote e todo seu trabalho.
Fala sobre o ecossistema Manguezal como tendo ficado de lado enquanto a Suerdieck dava emprego e renda a maioria dos moradores do município, ainda assim o manguezal se mostrou resiliente e disposto a dar caranguejo, camarão, sururu e outros pescados. Cita a importância da divisão de trabalho familiar que o manguezal proporciona, onde o homem é pescador, a mulher marisqueira e a criança de manhã vai junto com a mãe ajudar nos mariscos e a tarde quando as mulheres vão ferver o sururu as crianças vão para escola. Tudo isso mostrando como esse formato de trabalho é importante para a preservação dos manguezais e que melhor que os pescadores só eles mesmos. Temos que valorizar esse trabalho e ter humildade quando chegamos para realizar trabalhos nesse ecossistema.
Relata o caso do “Sururu do Paraguai”, que foi o aparecimento de uma espécie de sururu que não costuma existir na Baia de Iguape por conta de uma sequência de acontecimentos que gerou a salinização da água. Chamavam assim porque esse sururu tinha muito, mas não era bom, não dava um caldo com a mesma qualidade que o sururu do Mangue. Ressalta a barragem da Pedra do Cavalo como fator relevante para a alteração do grau de salinidade na Baía de Iguape. Conta como foi o processo da pesquisa que fizeram, com a participação de Rubinho, prefeito a época, sendo a garagem da casa dele o laboratório, conta da participação da comunidade para ajudar no processo. Essa espécie durou um ano, pescadores e marisqueiras se dedicaram a coleta dela porque era o recurso muito abundante, as pesquisas já avaliaram que duraria pouco tempo, acabou assim que as chuvas começaram a adoçar a baía. Por fim fala da importância de conhecer o contexto local para avaliar da melhor forma todas as posições que fazem parte da corrente de produção local antes de propor qualquer intervenção. Cita o Quilombo do Angolá e caso da visão superficial que teve sobre o intermediário da venda dos pescados e mariscos, que não é um mero atravessador, ele tem outras funções importantes dentro da linha de produção e não se pode desrespeitar o que está funcionando. Saliente que é uma engrenagem muito bem equilibrada e produto de muitos anos, muitas gerações para isso funcionar.
Antônio Fernando Queiroz | Fund. de Apoio à Pesq. e à Extensão – FAPEX/BA [BRASIL]
Cumprimenta a todas e todas, agradece imensamente a participação no Global Mangue e conta que acompanha já há muitos anos o trabalho da Fundação Vovó Mangue. Se apresenta como professor do Instituto de Geociências da UFBA, hoje Departamento de Oceanografia, conta que trabalha com manguezal desde a década de 80 e que por isso já participou de diversos encontros, incluindo o 1º ENEAAM de 1993, depois realizaram o Congresso do manguezal em 2003, e tem realizados uma série de trabalho no Brasil e em outras partes do mundo, sempre que podem contribuindo com pesquisas sobre a geoquímica dos manguezais
Fala que a primeira parte da apresentação se intitula “Conhecendo os Manguezais”, onde detalha um pouco quais são os componentes do ecossistema, sempre enfatizando que é um ecossistema extremamente frágil composto por fauna e flora bastante especificas e por um substrato diferenciado, onde temos a lama do manguezal que é composta por matéria orgânica e argila predominantemente, composto basicamente de sedimentos, água e matéria orgânica. Aponta que existem algumas características intrínsecas a existência dos manguezais, clima, salinidade que tem que ser intermediaria entre águas marinhas e doces, o relevo tem que ser mais ou menos plano e as marés elas realizam um mecanismo muito importante para faz essa salinização para que os manguezais possam se desenvolver.
Os manguezais estão distribuídos principalmente na região intertropical e o Brasil tem um lugar de destaque, onde mais recentemente verificou que tem uma área bastante grande e essa área vem diminuindo por muitas agressões que os manguezais veem sofrendo.
Na segunda parte da apresentação trouxe um painel dos estudos que realizaram entre 1984 – 2023, quase 40 anos, em prol dos manguezais. Apresenta brevemente todos os estudos que foram feitos e realizados ao longo desses anos, parceiro que existiram, metodologias usadas e resultados. Cita os locais em que os trabalhos foram realizados incluindo: Rio Jacuípe, Baía de Todos os Santos, Maragogipe, Estuário do Rio Joanes, Baia de Camamu, Estuário do Rio Itanhém. Os tipos de estudos: dos sedimentos, mineralogia, sedimentologia, metais, matéria orgânica análise geoquímica interpretações fases geoquímicas e o tratamento estatístico de dados, influencias antrópicas que os manguezais vinham sofrendo, entre outros. Fala da Rede Cooperativa em Recuperação de Áreas Contaminadas por Atividades Petrolíferas – RECUPETRO, 2011 – 2014 – que foram projetos cooperativos que privilegiava manguezais. Momento que tiveram a oportunidade de voltar para algumas regiões onde fizeram alguns estudos de modelagem com o petróleo, com a influência de petróleo principalmente nas zonas de manguezais, desenvolveram um laboratório de simulação para derramamento de óleo inclusive.
Expões alguns “produtos” de todos esses anos de pesquisa que são: dissertações, teses, alunos de iniciação cientifica, treinamento de alunos, livro, patentes, instrumentos para avaliação da zona de manguezal. Traz também quais são os projetos que estão sendo realizados atualmente que incluem a Rede REBICOP, Avaliação de Áreas Impactadas Por Petróleo e Aplicação de Biotecnologia, Projeto MODMEQ, Modelagem Geoquímica de Sistemas Petrolíferos – Geomicrobiologia – Acidentes em Manguezais na Bacia do Recôncavo. Relata que mais recentemente começaram a desenvolver o projeto CO2 Manguezal, junto com o Floresta Viva, Grupo Vovó do Mangue e FUNBIO, que envolve a restauração ecológica em mais de 300 hectares de áreas impactadas de manguezais e/ou respectivas bacias litorâneas na Baía de Todos os Santos.
Segue para a terceira parte da apresentação, em que fala da importância da preservação dos manguezais como parte do cumprimento com diversos dispositivos constitucionais, Constituição Federal e Constituições Estaduais, e infraconstitucionais como muito importantes, devendo acontecer com muito rigor para que possamos seguir tendo os manguezais preservados.
Finaliza com a reflexão de que: “A sobrevivência dos manguezais depende de cada um de nós”.
Deixa seus contatos profissionais para informações ou esclarecimentos adicionais, telefone 71 3283-8632, e-mail afsqueiroz.ufba.@gmail.com.
Claudia Teutli | Escuela Nacional de Estudios Superiores, Mérida [MÉXICO]
Letícia Reis é quem faz a tradução simultânea.
Claudia se apresenta, agradece a participação no evento tão importante, conta que vai tratar do contexto dos manguezais a nível global. Fala que quando falamos em manguezais estamos falando de 13 milhões de hectares em todo o mundo, tendo a América uma importância nesse montante. Relata que há uma discordância no número total de cobertura de manguezais no continente, mas estamos entre 3.9 e em 4,1 milhões de hectares. Faz um ranking dos países com maior cobertura de manguezais, sendo o Brasil o segundo lugar e o México o quarto lugar. A nível de espécies contam com mais de 63 espécies, essa variedade de espécies varia de acordo com a latitude e longitude do território. Na América, a Colômbia é o país que tem maior diversidade de espécies nos manguezais. Ressalta que é fundamental entender que a nível mundial a distribuição dos manguezais está dada pela temperatura e ao clima, e a nível regional deve entender em que cenário morfológico que ele está inserido para pensar sua diversidade, a hidrografia e a topografia são fundamentais, porque determinam a presença de espécies de acordo com as características de conteúdos de nutrientes e as características da água. Destaca que os manguezais têm uma conexão com outros ecossistemas, por exemplo com as ervas marinhas, com os recifes marinhos. Portanto, sua geomorfologia, o cenário que o encontramos vai influenciar diretamente na função que eles desenvolvem, por exemplo um manguezal de um delta não se comporta da mesma forma que um manguezal de lagoas.
Exibe imagens que mostram a diversidade de manguezais que há no México de acordo com sua topografia, hidrologia, clima e morfologia. Resultando em diferentes tipos ecológicos de manguezais, tendo mangues de 50 cm até mangues de 20 metros. A escala local e como se move a água no local, a tipografia, é fundamental para que te tenhamos tipos diferentes de manguezais, para entender toda a estrutura e físico-química deles.
Coloca que nos falta muito para entender os diferentes tipos de manguezais em suas especificidades, elas não estão descritas a nível mundial e muitas vezes nem por países. Mostra a imagem de um documento mostra que para entender todos os processos que exercem influência e estão presentes nos manguezais precisamos, por exemplo, nos aprofundar na questão das bactérias. Destaca toda a complexidade os ecossistemas de manguezais representam e como as características específicas de cada um provem diferentes serviços ecossistêmicos.
Apresenta a informação de que até o momento se estima que os manguezais oferecem serviços que tem um custo de 194 mil dólares por hectares por ano. Mas o que devemos compreender é que esses serviços, que são simplesmente os benefícios que nós obtemos dos manguezais, dependem de suas características e que são fortemente influenciados pelo uso e valores que damos. Mostra como exemplo da diversidade de serviços ecossistêmicos oferecidos, desde usos recreativos até zona de refúgio para diferente espécie e proteção para a zona costeira. Um serviço que está tomando muita relevância é que funcionam como muro de contenção para eventos climáticos, pois, reduzem a força da energia com que as ondas e o vento chegam. Salienta que o Banco Mundial reconheceu que estamos mais vulneráveis quando não temos manguezais, por isso a parte de manejo, restauração e conservação é muito fundamental. Para ter uma ideia de sua relevância mostra um mapa que mostra que se não houvesse manguezais mais de 15 milhões de pessoas estariam expostas a inundações e teríamos uma perda de 65 mil milhões de dólares por ano. Outro dado fundamental é que para 80% da pescaria mundial depende direta ou indiretamente desses ecossistemas. Na atualidade outro9 serviço que tem se tornado muito relevante é que funcionam como zonas de recreação, estão se realizando mais atividades eco turísticas dentro desse ecossistema.
Pensando sobre enfrentamento as mudanças climáticas, os manguezais têm grande capacidade de mitigar os efeitos do gás de efeito estufa pela capacidade de captura e armazenamento de carbono. Estão dentro da ideia dos ecossistemas de carbono azul que são formados por: pastos marinos, marismas, manguezais. Dentre eles os manguezais são os que mais carbono orgânico armazenam e, portanto, mais carbono. Se comparamos os ecossistemas de carbono azul com os de carbono verde, que são todas as florestas tropicais, os manguezais armazenam entre 5 a 15 vezes mais esse carbono.
Lembra que nem tudo é tão bonito, na atualizada perdemos mais de 4% da cobertura de manguezais a nível mundial. Portanto, perdemos também todos esses serviços ecossistêmicos que já falamos. Por sua localização os manguezais são fortemente impactados por essas mudanças climáticas, por exemplo os furacões os impactam muito, alterando sua estrutura, tipografia, hidrografia e sua composição. Atualmente temos um alto índice de ocorrências de furacões, mostra um gráfico com a frequência de furacões no Atlântico em 2020. Há um dado de que o desenvolvimento antrópico traz consequências e a perda dos manguezais está diretamente ligada ao desenvolvimento econômico e tipo de atividade que se desenvolve em cada país. Os dados mostram que a América Latina e o Caribe são a região mais urbanizadas do planeta e a projeção é que as cidades da zona costeira se tornem megacidades, tudo isso traz como consequência uma grande perda de áreas de manguezais.
Alerta para a importância de se recuperar os manguezais para assim se recuperar também os serviços ecossistêmicos e assim ter uma solução de desenvolvimento baseada na natureza. A restauração tem que ser ecologicamente funcional, economicamente viável e socialmente aceitável pelas comunidades que vivem nos locais a serem recuperados. A restauração tem que ser feita por uma estratégia e não por uma receita, devem seguir especificidades de cada território. Constata que há diferentes metodologias de restauração de manguezais mundialmente, sendo a reflorestação tem sido a principal atividade ainda que não se tem muitos dados medidos como, por exemplo o quanto de carbono é capturado por meio desse processo, visto que são estudos que devem ser feitos a longo prazo.
Como já mencionaram estamos na década da restauração de ecossistemas e de acordo com a Global Mangrove Alliance, a nível direto de desafio que temos, o de aumentar a área de manguezais, nem temos proporção exata de quanto já temos perdido, porque se quer sabemos quantos hectares de manguezais de fato temos recuperados. Algo muito importante é que temos que gerar informações para as comunidades pois, isso ajudaria muito a tomar medidas tanto de conservação quanto de restauração.
Faz as considerações finais dizendo que obviamente falta muita investigação básica dos nossos ecossistemas em nível de América, acha importante transmitir os conhecimentos para comunidades locais e ainda mais formalizar conhecimentos da gente que vive em áreas de manguezal, pois elas possuem muito conhecimento. Por fim entende que tem que fomentar o intercâmbio de experiências entre comunidades das zonas de manguezais nas Américas.
Jorge Pineda Gomes | Sistema Nacional de Áreas de Conservación [COSTA RICA]
Cumprimenta a todas, se apresenta como trabalhado do Sistema Nacional de Áreas de Conservação e diz que vai falar sobre a restauração de manguezal na região Golfo de Nicoya em seu país, a Costa Rica. Explica que o sistema de conservação tem como intuito conservar e restaurar os recursos naturais do país. O país está dividido em doze áreas de conservação e atualmente existe mais de 150 de regiões de preservação que representam a biodiversidade do país, desde a costa até as montanhas.
Relata que a Costa tem desenvolvido políticas sociais para conservação e preservação das regiões costeiras, em 2017 surgiu a Política Nacional das Zonas Húmidas e atualmente tem a Estratégia Nacional do Carbono Azul. Informa que seu país não tem uma extensão de manguezais tão grande como Brasil ou México, porém, eles representam 37 mil hectares e se realizam grandes esforços para sua preservação e restauração. A nível do Oceano Pacífico, onde podemos encontrar os maiores índices de destruição de manguezais, o Golfo de Nicoya mantem mais 50% da cobertura de manguezais preservados, realizamos estratégias regionais de preservação, conservação e manejo desses manguezais. Conta que essas zonas húmidas têm passado por diferentes atividades produtivas, como a atividades aquícolas, como as salineiras e exploração de camarão, além de ter outros contextos que envolve invasão de áreas para produção agrícola como para a cana-de-açúcar e outros. O Golfo de Nicoya tem passado por diferentes pressões e eles têm trabalhado para a preservação em duas áreas específicas, uma mais interna e outra mais externa.
Apresenta estudos de caso na região, incluindo um que fala da reabilitação de zonas hidrológicas costeiras e outro o trabalho com antigas áreas de exploração de camarão. Relata que anteriormente os esforços do Ministério da Agricultura e Pecuária foram voltados para elaborar permissões para a construção de salineiras e áreas de carcinicultura naquela região, isso na década de 1980, porém, com a criação da Lei Florestal de 1996 a atividade de corte mangue já não se podia mais se desenvolver e isso foi um marco importante para o país e a conservação dos manguezais, eles foram reconhecidos como patrimônio nacional do estado. Em 1998 houve a criação do SINAC que consegue regulamentar e fiscalizar esses locais em atividades, encerrando muitas dessas explorações que, na verdade aconteciam em áreas de manguezais. O que acontece é que esses locais após o encerramento das atividades de exploração apresentam solos muitos áridos, o fluxo hidrológico não adentrava mais esses lugares, então pensar em ações de regeneração era impossível.
Apresenta uma área específica de zona de carcinicultura que foi fechada, mostra imagens comparativas de quando ela foi fechada em 2013 e outra do ano seguinte ao fim dessa exploração em 2014. O que se pode ver é que as condições no lugar não melhoraram. Em 2016 realizaram atividades de reflorestamento de manguezais, mas houve uma taxa de mortalidade de 80% das árvores plantadas. Em 2017 conta que realizou um experimento com o intuito de introduzir água na região, começaram a ver quais eram as possíveis entradas de água a esses lugares, viram que existia a presença de caranguejos e de propágulos, inclusive algumas plantas tinham sobrevivido na tentativa de reflorestamento, estavam tendo melhores condições.
O estado não tinha recursos para investir no processo de reflorestamento, então foi necessário fazer alianças público-privadas para desenvolver o reflorestamento, tendo uma empresa como parceira majoritariamente, a cimenteira Cemex que financiou e deu todo o suporte necessário para as atividades de reflorestamento. Em nível interno governamental também era necessário desenvolver atividades que promovesses essa preservação e assim tiveram como primeiro passo rotular esses lugares e identificar quais eram as áreas possíveis a serem recuperadas. Desenvolveram uma estratégia para que pudessem ingressar com maquinário pesado naquelas áreas para acelerar o processo de reflorestamento, a partir da abertura de caminhos para o ingresso de água a esses lugares. Ressalta que não usaram apenas os maquinários para conseguir isso, mas também os conhecimentos locais.
Como exemplo de resultados, mostra imagens de 2019 quando fizeram a abertura de muros de um espaço de cultivo de camarões para que a água ingressasse e outras de maio de 2020 onde já havia a retomada de um fluxo hidrológico ditado pelas marés das regiões. Conta que realizaram esse tipo de ação, que entende como reabilitação de do fluxo hidrológico das áreas, em outros locais e os resultados foram também de desenvolvimento de vegetação. Apresenta imagens de uma outra área de exploração de camarão em que realização a mesma ação de reestabelecer o fluxo hidrológico de forma mais rápida abrindo nove passagens para água e tiveram como resultado também o reflorestamento. Exibe mais imagens de como se deu o desenvolvimento em diversos lugares dessa recuperação, salientando como há um avança da cobertura vegetal nesses casos. Agradece pela participação.
Ricardo Campos | Fórum de Energia e Clima da CPLP [PORTUGAL]
Agradece a participação, dá bom dia a todas as falas, em especial a Luiz que foi quem fez o convite ao Fórum de Energia e Clima da CPLP, que é uma organização da comunidade de países da língua portuguesa, Angola, Brasil, Portugal, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Essa organização tem em sua composição atualmente mais de 3 mil membros e convida a todos a participarem desse Fórum e participarem nesse diálogo entre as nações, entre o mundo que fala português no desenvolvimento de projetos da ação climáticas.
Coloca que temos duas grandes crises para enfrentar e vencer enquanto humanidade nos próximos anos, fala da crise climática e da crise dos recursos. O estado dos manguezais e o fato de já terem desaparecidos 4% no mundo como Cláudia falou, mas se formos para Guiné-Bissau devido à exploração e falta de cuidados, por exemplo, 94% dos manguezais já sumiram. As duas crises têm a mesma causa, é a nossa falta de sensibilidade para os limites do sistema terrestre e a falta de ligação com o fino equilíbrio entre atividades humanas e o mundo natural, outros seres vivos e ecossistemas.
A razão do desmatamento dos manguezais tem a mesma raiz do problema da emissão de gases com efeito estufa que todo mundo sabe, há muitas décadas, que faz aumentar as temperaturas no planeta devido à radiação infravermelha. Apesar da ciência dizer e todos nós sabermos que isso não é bom o que aconteceu no mundo é que a cada ano as emissões aumentam cada vez mais. Apesar de sabemos que os últimos 9 anos foram os mais quentes desde que se tem registro que é 1880, e que hoje em nossos telejornais, nos nossos noticiários, vemos que a realidade das alterações climáticas, é uma realidade presente, somos nós a geração das alterações climáticas. Nós temos que olhar para este tema como o desafio das nossas vidas, é claro que a decisão política é importante, é preciso descarbonizar a economia, mas há um dado que nós não vamos poder mudar e que não está muito presente nos debates que é o fato de nós no início da revolução industrial sermos apenas 1 bilhão de pessoas no mundo, as nossas avós em 1950 tinham 2,5 bilhões de pessoas e hoje já somos cada vez mais, já ultrapassamos a 8 bilhões de pessoas. Em 70 anos aumentamos 4x a população no mundo e isso envolve a necessidade de mais alimento, água, energia e recursos.
O trabalho da Vovó do Mangue, de Maragogipe nessas iniciativas que estão sendo tomadas é da maior relevância porque ao estancar o desmatamento dos manguezais estamos colocando o ambiente, a natureza no centro do nosso desenvolvimento econômico e social. Ressalta como essa é uma ação necessária em outros países da CPLP, como, por exemplo, em Angola em Luanda na Baía Farta e Baía dos Tigres; em Cabo Verde, na Ilha do Maio; em Bazaruto, em Moçambique.
Cita que em 2019 houve a maior tempestade do hemisfério sul, o ciclone Idai que ocasionou um efeito devastador onde mais de 500 pessoas perderam a vida na zona central de Moçambique. Mas essa tempestade foi ainda mais devastadora porque não havia mais os manguezais para conter a energia dessas tempestades, eles estavam todos degradados.
Fala como os países da CPLP tem muitos quilômetros de costa em seus países e salienta a importância de uma união em torno dos manguezais, por isso incita a Fundação Vovó do Mangue, as instituições da Bahia e o Ministério do Meio Ambiente brasileiro para junto a CPLP conseguir uma união em torno da preservação dos manguezais. Fala que são mais de 1000 hectares de manguezais em todo a CPLP.
Os manguezais são sinônimos de uma nova civilização que nossa geração vai criar, a civilização industrial está no fim, o que vai nascer agora é uma civilização ecológica, onde a Amazônia e as outras florestas virgens vão ser respeitadas, onde os manguezais vão ser reconhecidos como santuário de vida, como sua importância como floresta marinha que tem 30% mais capacidade de reter o carbono do que as florestas terrestres, onde se reproduzem diversas espécies e são a base da cadeia alimentar de diversas populações, subsistência para comunidades pesqueiras. Reafirma a importância dos manguezais como ecossistema que garante a qualidade da água, 1 hectares é capaz de tratar o esgoto doméstico de 200 casas e nós temos que valorizar esse sistema único, esse sistema diferenciado que a natureza nos deu, que uma economia exploradora de recursos continua a destruir.
Manda um abraço do tamanho do oceano que nos uni e chama a união das nações para que possam fazer mais coisas, possam inaugurar essa civilização ecológica esse sentido de humanidade de uma casa comum, aquilo que deixe aos filhos seja essa revolução para a sustentabilidade que resta a essa geração.
Fala que os políticos têm a responsabilidade de tomar medidas corajosas frente a uma economia muito predadora e que precisam das pessoas ao lado dos políticos para preservar a natureza. Atenta que o político tem um importante papel para avançar mais rápido no reestabelecimento desses ecossistemas.
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Horário de início: 14h22
Atividade: Continuação do Painel de abertura – TEMA – A importância dos manguezais no contexto global
Yara Scheaffer-Novelli | Universidade de São Paulo/SP [BRASIL]
Inicia mostrando uma imagem dela, no primeiro ENEAAM, junto ao prefeito da época e traz algumas memórias para dizer que no contexto dos manguezais é importante ter uma visão do passado para entender o presente e para cenários futuros. Muito embora a intervenção humana na terra tem sido tão grande que calcular cenários futuros tem sido cada vez mais difícil. Isso inclusive está trazendo uma profunda frustação, até um desequilíbrio psicológico nas pessoas, já que a cada dia estamos tendo sobressaltos de fatos absolutamente novos que nunca aconteceram de forma tão rápida.
Faz uma apresentação intitulada, “Manguezais: Origem e Biogeografia”, trazendo as origens em todos os aspectos desses ecossistemas. Apresenta desde as origens da Terra com o Big Ban e todos os seus desdobramentos em âmbitos, ou engrenagens como denominou, menores. Muitos acontecimentos que foram ocorrendo cada uma a seu tempo, como os fatos ecológicos que envolvem, hidrografia, topografia, ecossistemas, processos geomorfológicos globais, o clima. Por fim as engrenagens menores que são aquelas que ficam rodando o tempo todo (dia, marés, noite). Explica e mostra imagens sobre o processo de formação dos continentes e oceanos como conhecemos hoje a partir da pangeia e o fato da separação das massas continentais emersas continuar se processando até hoje ao longo dos últimos 200 milhões de anos. Mostra a formação dos manguezais nas costas ao longo desse processo.
Ressalta que as características que cada espécie de mangue vai desenvolver depende das condições territoriais específicas, não há um “kit mangue”. Observa que as próprias espécies de mangue vão se desenvolver melhor em água doce, mas ali elas têm outras plantas mais capacitadas para disputar espaço. Portanto, as plantas típicas de mangue cujas adaptações permitiram a elas brigarem por ocupar um espaço nas águas salobras e salgadas vão se desenvolver melhor nas áreas de manguezais. Citando o processo de seleção, coloca que é difícil avaliar esse histórico de quem deu certo e quem não deu, porque a história só conta quem deu certo. Inclusive avaliar sobre a fossilização de partes orgânicas dos vegetais é muito difícil num ambiente de lama e num ambiente de lama cujas formações costeiras não sobrevivem há mais do que 3 mil anos. Explica que uma formação de estuário tem no máximo uns 3 mil anos, porque depois já muda aquela dinâmica costeira e vai virando outra coisa, e outra coisa, e virou outra coisa. Então tudo isso está acontecendo nesse grande caldeirão de processos geológicos, ecológicos, hidrológicos, todos eles ocorrendo em diferentes velocidades.
Apresenta duas hipóteses distintas para como as espécies de mangue e os propágulos se propagaram pelos manguezais ao redor do mundo, a hipótese de Chapman (1975 e a hipótese de MacCY e Heck (1975). Detalhando hipótese de MacCY e Heck, coloca que o centro de origem e a convergência evolutiva de recifes de coral, pastos marinhas e manguezais, os ecossistemas que entendemos como tropicais tem uma origem que teria favorecido uma convergência evolutiva apesar de um histórico muito diferente. Chega a essa conclusão a partir da análise do pólen dessas plantas e do material calcário de corais, por meio de pesquisas, encontrou no período cretáceo 65,50 milhões de anos ele encontrou essa formação.
Fala sobre o baixo número de pesquisadores e laboratório de palinologia no mundo, trazendo que no Brasil há apenas um trabalho feito pela Petrobras de palinologia de manguezal nas áreas de prospecção de petróleo, mas que é de muito difícil acesso e não tem descrito os locais de amostragem. Enfim, uma área bem pouco aprofundada. Segue apresentando em quais eras geológicas surgiram as vegetações e cada uma das regiões de manguezais. Fala de um padrão de distribuição atual de manguezais e corais hermatípicos, que formam recifes, terem sempre uma proximidade.
Apresenta um mapa da circulação de correntes de águas dos oceanos, e fala sobre a distribuição dos manguezais ser onde tem as correntes de superfície de aguas quentes que são propícias para a dispersão dos propágulos de mangue circulem. Fala sobre as diferenças de substratos de diferentes manguezais e os tipos de vegetação que alise desenvolvem, assim como a dinâmica das marés, a salinização da água e como atuam em diferentes partes da costa brasileira. Reforça o fato dos manguezais estarem distribuídos globalmente nas áreas tropicais e intertropicais, as zonas mais quentes. Em zonas que temperaturas mais baixas no inverno faz com que nesses meses as plantas dos mangues não consigam se manter e quem domina as áreas de manguezais são as marismas, gramíneas, capins, porque são plantas que aguentam o frio e tem um ciclo de um ano, florescem e depois morrem nesse período, um exemplo é Laguna em Santa Catarina.
Apresenta diversos contextos de manguezais ao longo da costa brasileira e o alto número de hectares de manguezais que possuímos, e apresenta os dados de 2015 que coloca o Brasil com 1.398.966, 1 hectares, sendo 2º ou 3º lugar em área, a Indonésia sendo o 1º sem dúvidas. Salienta a importância e a responsabilidade que temos no mundo por ter toda essa área de manguezal e de mantê-los preservados, chamando uma responsabilidade institucional que todos os órgãos ali presente tem.
Por fim, mostra a teia trófica da Baia do Araçá em São Sebastião, litoral norte de São Paulo que mostra que o manguezal é o primeiro nível trófico da cadeia, com os vegetais sintetizadores de matéria orgânica. Para finalizar convida Carlinhos para cantar a música Vovó Mangue de sua composição.
Carlinhos de Tote fala que ENEAMM desde o início que está com professora Yara em todos. Conta que desde 1993 fazem educação ambiental através da música. Conta história de algumas músicas que compôs e o apoio que recebeu da professora para gravação do seu disco com o Cantarolama, por fim canta a música Vovó do Mangue.
Mesa 2 – A Educação Ambiental em Áreas de Manguezais no Brasil
GLOBAL MANGUE
Fórum Internacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais
Data: 18/10/2023 – Quarta-feira
Local: FUNDAÇÃO VOVÓ DO MANGUE
Horário previsto: 15h05
Atividade: TEMA – A Educação Ambiental em Áreas de Manguezais no Brasil
Nova mestra de Cerimônia: Fernanda
Palestrante: Clarice Maria Neves Panitz, Univ. Federal de Santa Catarina/SC [BRASIL]
Mesa redonda
Mediador: Tiago Porto – Superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental – no Secretária Do Meio Ambiente – BA
Expositores:
Carlos Antônio. de Oliveira – Carlinhos de Tote | Fundação Vovó do Mangue/BA [BRASIL]
Desidéria Maria Barbosa Nery | Letróloga e Turismóloga/PI [BRASIL]
Chiara Bragagnolo | Universidade Federal de Alagoas/AL [BRASIL]
Maria Tereza Lanza | Fundação Florestal/SP [BRASIL]
Maricéia da Silva Villas Boas | Bióloga e Educadora Ambiental/SC [BRASIL]
Carla Hage Ferraz | Emanar Social/BA [BRASIL]
Mediador | Tiago Porto – Superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental – na Sema – Secretária do Meio Ambiente – BA
Agradece a presença de todos, fala da importância da discussão da educação ambiental para encontrar a solução necessária para os desafios que a gente tem sem ações educadoras e que pela diversidade das experiências das pessoas que vão falar vamos poder ouvir diversas estratégias para poder traçar estratégias. Diz como é importante falar sobre as estratégias. Retoma a importância de respeitar o tempo de fala 10 min cada um e depois abre para perguntas da plenária.
Clarice Maria Neves Panitz, Univ. Federal de Santa Catarina/SC [BRASIL]
Começa a apresentação Educação ambiental em áreas de manguezais no Brasil. Diz que vai fazer um pout-pourri de metodologias, técnicas e ferramentas usadas em educação ambiental. Fala que estamos perdendo manguezal de forma assustadora segundo o atlas do IBAMA 25% já perdemos, o que estamos fazendo não está suficiente para parar tudo isso. Necessário pensar o que fazer.
Elementos que ajudam a devastação dos manguezais, a pressão da zona costeira, a construção de portos, hotéis, cultivo de camarão, somado às mudanças climáticas. Para reverter essa situação caótica e catastrófica é preciso ações, através da educação ambiental, com diversas atividades para mudar o comportamento e as atitudes das pessoas. Mas particularmente só mudando o padrão de consumo que temos, o consumismo desenfreado e que afeta todo o planeta é que vamos ter resultado.
Coloca que as pessoas só vão proteger aquilo que conhecem, gostam e amam. Por exemplo: quem ama uma aranha, uma cobra venenosa? Porque é um bicho feio e perigoso, então não quer nem saber, pega e mata. Um golfinho, um boto rosa, claro que vamos fazer alguma coisa, temos que ter algo que nos sensibilize, nos levam a gostar daquele elemento. Uma fauna carismática para chamar a conservação, dá exemplos de animais carismáticos da nossa fauna e a importância de tornar a fauna carismática para incentivar a preservação.
Ressalta que as pessoas que são educadores e as pessoas que trabalham em manguezais, utilizam metodologias, técnicas e ferramentas para a educação ambiental. Chama a atenção para a necessidade de que todas essas pessoas adotem uma mesma linguagem para possam se entender. Reforça que mangue é a espécie vegetal e quando falo manguezal é o todo, aí sim estamos falando de todo o ecossistema. A nível popular a gente usa a palavra mangue de modo geral, mas nós técnicos temos que falar manguezal.
Apresenta uma extensa lista com todas as técnicas e ferramentas que usa enquanto educadora e pesquisadora ambiental. Dentre elas estão: livros científicos e livros paradidáticos com desenhos; Artigos científicos; Trabalho com livros cartilha do manguezal; Jogos feitos para manguezal; Almanaques; revistas; desenho de crianças antes e depois de conhecerem os manguezais; cartazes; painéis; desenho animado (Ex: Caranga); o uso dos memes; folclore, as lendas dos manguezais (ex: vovó mangue, curupira, lenda do Ataíde); filmes (ex: mangue-negro, mães do mangue); música (ex: Chico Science); curso de capacitação para professoras para crianças; saídas de campo precisa entrar o pé na lamba, se não colocar o pé não conhece o mangue; passarelas e trilhas para ter acesso aos mangues, escolas, turistas, parques (ex: Recife tem o Parque do Mangue e Florianópolis Parque Urbano do Manguezal que foi criado no papel; Centro de educação Ambiental; Museus; Centro de recuperação de Manguezal; Flanelógrafo; Teatro e teatro de fantoche; Exposições ao ar livre; Artesanato com conchas e escamas, (ex: colar de escama de robalo, conchas e caracóis) ensinar a comunidade a trabalhar com isso para ter uma opção de renda; Eco pintura, Pinturas em camisetas a mão com elementos do manguezal; Mangue móvel, Ibama de Florianópolis que tem desenhado vários elementos dos manguezais e que anda em várias escolas capacitando para educação ambiental; Ecopoesia ferramenta para educação ambiental; Fotografia importante ferramenta que sensibiliza; questionários de pesquisa, dinâmicas de sensibilização ambiental; contação de história.
Alerta para o problema das unidades de conservação serem criadas no papel e não terem plano de manejo, não terem estrutura, não terem gente capacitada para trabalhar e acabar por ficar tudo abandonado.
Fala de outras instituições e ferramentas que são utilizadas pela educação ambienta, centro de educação ambiental, museus, centro de recuperação de manguezais, (ex: Fundação Vovó Mangue), Flanelógrafo quadro vivo que Mariceia Vilas Boas desenvolveu esse método e aprendeu com ela. Conta que está vestida com o chapéu e dessa forma como o Vergara, importante colega Vergara Filho criador do primeiro ENAAM, ele fazia teatro e ele usava essa roupa, era uma grande poeta, educador e gestor que merece essa homenagem.
Fala que Doutora Yara a introduziu na forma técnico cientifico, e que hoje ela é professora da Universidade Federal de Santa Catarina, entrou em 1978, sendo Yara banca do doutorado. Fala dos grandes professores que teve, gente com conhecimento técnicos científicos e gente das comunidades tradicionais (pescadores e marisqueiras), salienta a importância de unir os dois saberes.
Por fim após a apresentação chama a reflexão sobre a falta de material didático: será que há falta? Será que o valor é caro? Será que o educador sabe utilizar?
Avalia que não é, e diz da importância da aproximação dos professores as áreas de manguezais, conhecerem de fato aqueles espaços e a alerta para o fato de que está se perdendo os conhecimentos tradicionais do mangue, dos caranguejeiros, dos pescadores, marisqueiras estão perdendo pela falta de interesse das novas gerações e a morte dos mais velhos. Alerta para a importância de se priorizar esses conhecimentos para formar um cidadão melhor, mais crítico. Cita como exemplo exitoso a Escola dos índios Tremembé, uma escola indígena que é muito organizada.
Conta que o caranguejo é o bicho mais conhecido dentro de todos os elementos que compõem os manguezais e isso tem que ser valorizado.
Pergunta, por que estamos destruindo os manguezais? É por falta de conhecimento, falta de política ambiental? Nós temos uma legislação vasta que não é cumprida. Temos que trabalhar como educação ambiental inclusiva, todos, e temos que trabalhar uma nova ética em relação aos manguezais temos que fazer diferente do que estamos fazendo.
Finalizando presta uma homenagem mostrando fotos e apresentando pessoas que são importantes para a luta pelos manguezais e já faleceram: Norma Crude Maciel, Waldemar Vergara Filho, Everaldo Queiroz, Magnólio de Oliveria, Paulo Lana, Tania, Rogério Bombom, Marta Vanucci (Vovó do Mangue no 7º ENEAM). Sugere que a Dra. Yara seja a próxima Vovó do Mangue pela sua trajetória e seu conhecimento, diz que já a considera assim.
Segue chamando a reflexão: Estamos educando? Ressalta que apresentou 60 opções para isso e que houve há 30 anos atrás o ENEAAM e os manguezais continuam sendo destruídos. Fala da importância de haver um diagnóstico de quantos cursos, quantos pesquisadores mestres e doutores existem, quantos deles estão em órgãos públicos.
Mostra o símbolo dos ENEAAM’s que é o Caranguejo, ensinando, manguezal é vida e será que nós estamos aprendendo? Mostra que não, pois ainda há manguezais feitos de tanque de cultivo de camarão, cheios de lixo e sendo desmatados. Coloca que tem que ser bons alunos, aprendizes para ter manguezal equilibrado e farto. Reflete que sozinha não é possível fazer nada, precisa de uma educação inclusive, para fazer poder fazer educação ambiental tem que colocar o pé na lama, no lodo. Finaliza com a proposta de que a música O Encontro seja o hino dos Manguezais, Hino dos ENEAAM’s.
Carlos S. de Oliveira – Carlinhos de Tote | Fundação Vovó do Mangue/BA [BRASIL]
Cumprimenta os presentes com boa tarde, conta que sua formação é em educação ambiental e salienta que seria contraditório ele ter um mestrado em ciência da educação fora do país e voltar para o Brasil e não trabalhar com os professores. Entende que os professores são a base na educação ambiental, importante serem visto assim.
Fazer educação ambiental em um país, simplesmente por deleito é uma coisa, mas quando eu voltei para minha terra em 1980 encontrei minha cidade mais empobrecida porque a única fábrica que dava emprego, Suerdieck que tinha 3 mil funcionários, nesse momento foi fechada e levada para Cruz das Almas que era onde tinha a matéria-prima. Foi embora e deixou muitos desempregados, deixaram um memorial que é a casa de cultura local em que ocorreu o 1º ENEAAM em 1993. Pensou, o que eu tenho que fazer na prática para mudar? Entendendo que a cidade estava mais pobre, conta que sua mãe era operaria da Suerdieck e seu pai cortava cabelo, e sempre incentivaram que ele estudasse. Estudou muito, foi embora e teve a sorte de voltar para Maragogipe para fazer educação ambiental, extensão pesqueira em 1980 e em 1988 fazendo trabalho com professores e alunos de escolas públicas e particulares levando eles ao mangue. Naquele momento o mangue era visto de modo desvalorizado, como local sujo e de lixo, 3 mil kg de lixo por dia era jogado no manguezal. Conta que esse local foi modificado, revitalizado e é onde haverá a visita na quinta-feira junto a Expedição Darwin. Relembra que em 1993 começou um projeto que parou e depois foi retomado em 2007 quando teve o encontro de manguezais em Maragogipe.
Conta como foi feito o projeto, pegaram os alunos para conhecer o laboratório, afirma que educação ambiental é você fazer laboratório, verificar como o pescador faz, onde ele está, como trata seu pescado, como ele vive, como se veste, quais são suas dificuldades, afirma que isso é laboratório.
Relata como fez um filme na época na Baixa do Cajá com Dr. Ronaldo como diretor, buscou dois cinegrafistas e fizeram. No dia que foi lançar o filme havia um carro da Globo querendo saber quem era Carlinhos que estava fazendo o trabalho com mangue e dizendo que havia pesca com bomba. Aceitou fazer a matéria só após assistirem o filme, a equipe assistiu ao filme e contou que a matéria havia sido aprovada para ser parte do primeiro globo rural, em 1988. Conta que a partir daí os políticos começaram a ver de forma diferente, aqueles manguezais que antes eram só visto para serem transformados em praia para os ricos.
Faz descrição das cenas do filme que fez com as crianças que participaram do laboratório, nas cenas as personagens em um diálogo poético falam da importância do mangue como sustento das famílias, relatam os tipos de explorações que existiam e que degradavam o mangue, como o corte de madeira, pesca com bomba, pesca com malha fina. Ao fim chegam à conclusão de que plantar o mangue pode ser a solução para revitalizar e reestabelecer o equilíbrio perdido. Descreve com detalhes a cena quase final do filme em que um menino que pescava com bomba chega em uma cadeira de rodas, dizendo como antes de fazer essa pesca com bomba predatória o mar era abundante e não lhe causava prejuízos, já após pescar daquela forma teve consequências terríveis a sua integridade física inclusive. O filme termina com muita uma noite escura para aqueles que cometem esse crime de destruir o mangue.
Reforça a ideia do manguezal como o maior mercado a céu aberto e gratuito da população e a importância disso em um em que morrem 12 mil pessoas a cada 24 horas de fome. Fala como tem um modelo, uma maneira de proceder que é a educação ambiental de cada um de nós.
Declama um poema que conta a história de Vovó do Mangue.
Mediador: Tiago Porto Clarisse apresentou um portfólio com diversas possibilidades para educação ambiental. Carlinhos aprofundou e apresentando uma das possibilidades com cultura, musica, arte. Fala que quem é da área técnica isso fica tão difícil, palestra com termos técnicos. Educação tem essa diversidade possível e a gente precisa pensar a priori qual o público e qual a estratégia para conseguir.
Desidéria Maria Barbosa Nery | Letróloga e Turismóloga/PI [BRASIL]
Começa fazendo um convite, quebrando os protocolos, convidando a todas as pessoas se entenderem como educadores. Reflete porque o meio ambiente está como está, se estamos trabalhando há algum tempo com educação ambiental, mostrando leis, punindo, multando, fazendo tudo isso? Ela reforça um convite para que cada um seja um educador ambiental não precisa mais chamar IBAMA, ir à secretaria, ou na Universidade, pedir palestra, chamar alguém para falar, mas que cada um seja um educador. Necessário fazer um pacto, para que saiam desse fórum como local que a gente discute e chega a alguns encaminhamentos e possam realmente sair com o propósito de não ser o “euzinho” de dentro, o eu do conjunto, da proteção.
Fala que é do Piauí, cabocla do interior do Piauí, que tem os manguezais no delta do Parnaíba que une PI e MA, os manguezais com 50 m de altura. Convida a todos que possamos fazer esse acordo, esse pacto para que possam ir adiante, para que tenham a segurança que vão ter alguém para me orientar não só ajuda quanto está precisando, que haverá essa ação durante o dia a dia. Reforça a ideia de manguezal como grande supermercado, todos sabem que não é preciso colocar nada, nada mesmo e vai lá e pega. Normalmente quando coloca é algo errado, algo que contamina, algo que destrói. Nosso pacto seja não colocar nada no manguezal. Se ele é supermercado, você vai pegar o que está precisando apenas.
Pontua que valorização só se faz quando gosta e conhece, não é possível valorizar o que não conhece o que não gosta, não é nada fácil de fazer o trabalho, mas se gosta e conhece você protege. O manguezal não é de nenhuma instituição ou pessoa específica é nosso, precisam todas estar comprometidas com essa preservação.
Questão do turista banhando nos córregos e igarapés, não é que seja proibido, mas não pode ser uma atração turística para ir lá banhar, precisa conhecer em outro aspecto. Conhecer, por exemplo, a cata de caranguejo, o processo, ser mais um a somar e não ser mais um a destruir o que é de todos nós. Coloca que essa é a provocação que deixa depois de mais de 20 anos trabalhando com educação ambiental no IBAMA com catador de caranguejo, pescador, marisqueiro e nada muda. Cada ano tem problema novo, cada vez é uma situação mais complexa.
Relata trabalho difícil que fez no Delta do Parnaíba, andavam numa chalana para poder andar pelos pequenos córregos, via toda a vegetação na margem, mas ali a 2 metros da margem tinha o clarão de desmatamento. Diz que traz essa fala, dizendo que não será assinatura de documentos, a fala vale mais do que qualquer documento e é necessário esse compromisso de pensar e repensar essa forma de atuação para preservação do manguezal.
Mediador: Tiago Porto. Fala desse chamado a sermos todos educadores, porque não é possível que poucas pessoas se envolverem para chegar nesse objetivo grandioso que tem. Ressalta que é óbvio que nem todos têm as ferramentas para exercer essa educação ambiental e como é necessário buscar essas ferramentas, aprendê-las.
Chiara Bragagnolo | Universidade Federal de Alagoas/AL [BRASIL]
Cumprimenta a todas e diz que vai apresentar uma abordagem de educação ambiental. Ressalta que é muito nova nessa área da educação ambienta. A abordagem no caso é um desenho animado chamado Mar à vista.
Conta que o desenho animado nasceu no laboratório da UFAL, onde ela é bolsista de doutorado no laboratório e se expandiu para a Bahia. Ela mudou de Maceió para Ilha de Itaparica trouxe com ela esse desenho. Explica que o desenho não trata especificamente da área do manguezal, mas fala da conservação da vida marinha como um todo. Ainda assim tem bastante conteúdo sobre manguezais.
O que estão começando a fazer é divulgar os produtos que desenvolveram sendo o desenho animado o carro chefe. Descreve o desenho conta que ele acontece no litoral de Alagoas e Pernambuco especificamente na APA Costa dos Corais. Personagens são espécies carismáticas, principalmente o peixe-boi, porque nessa APA tem o projeto de reintrodução da espécie. Além dele tem também a tartaruga, o coral cérebro e o ser humano que é uma pescadora que traz o conhecimento tradicional. Diz que tem conhecimentos chaves que estão por trás de toda a construção dos personagens do desenho que tem como objetivo também a divulgação científica. Traz um pouco dos significados por trás da escolha dos animais, ligadas a características da espécie, como por exemplo, a tartaruga que é a aventureira, bicho que nasce e já se aventura na vida. Explica que o nome dos personagens foi dado homenageando nomes de grandes personalidades da história de Alagoas, sendo eles: Nise da Silveira, Dandara dos Palmares, Arthur Ramos, Graciliano Ramos e Linda Mascarenhas. Tudo isso para fortalecer a ligação com a cultura local e a história local. As músicas tocadas são todas autorais, feitas por voluntários, sempre trazendo a cultura musical de Alagoas como o coco de roda, maracatu, bumba-meu-boi.
Relata que a ideia surgiu no laboratório que é composto por pesquisadores que trabalham na área da conservação de forma 360 graus, tem pesquisadoras de diversas áreas, ela por exemplo é da área das ciências sociais aplicadas a conservação. Conta que várias das pesquisadoras do laboratório se tornaram mães e isso fez com que sentisse a necessidade ainda maior de trabalhar com área educacional, sentiam falta de um conteúdo para trabalhar com as crianças. Relata a forma de trabalhar com o desenho, primeiro elaboram o roteiro, há uma revisão feita por especialistas, montam as falas, fazem a animação, introduzem a música e fazem a edição. Conta que já tem uma temporada com 15 vídeos publicados no Youtube e uma segunda etapa que ainda está finalizando.
Relata que criaram também cartilhas para fazer atividades presenciais com as crianças usando os mesmos personagens do desenho animado para diferentes faixa etárias de crianças. Lembra que a primeira ideia era fazer um teatro de fantoches, mas com chegada da pandemia tiveram que adaptar a ideia e surgiu o desenho animado.
Mostra registro de atividades presenciais na Ilha de Itaparica com crianças e relata um pouco da metodologia usada. Uma delas é aproximar as crianças dos animais, então pergunta: O que temos em comum com o peixe-boi? A partir daí traz as semelhanças, por exemplo, ele é mamífero, não pode sair sozinho, come salada.
Fala sobre os números de alcance dos vídeos e crianças impactadas, somando mais de 20 mil visualizações, mais de duas mil crianças participaram das atividades presenciais principalmente em Alagoas, imprimidas mais de 10 mil cópias de cartilhas distribuídas em ações. Mostra os novos produtos que estão trabalhando, histórias em quadrinho, livro de colorir e história para contar.
Conta um pouco do que está desenvolvendo de trabalho na Bahia, no primeiro ano se comprometeu em replicar as ações realizadas em Alagoas, segundo e terceiro anos que começam em março do próximo ano, se compromete em criar novos personagens e protagonistas para elaborar materiais didáticos que representem a Ilha de Itaparica, principalmente na Baía de Todos os Santos.
Cita as redes sociais do projeto onde podem conhecer todos os materiais: https://www.instagram.com/maravistaprojeto/, youtube.com/lacos21 .
Mostra as ligações institucionais que tem, que inclui FAPEAL-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, Instituto Ayni, CNPQ. Fala que a coordenadora do projeto em Alagoas é Ana Malhado, as responsáveis são Luana Almeida e Karoline Azevedo. Em Itaparica ela conta com duas colaboradoras que são, Adriana Muniz e Deusdelia Andrade. Ela hoje está na ONG PROMAR em Itaparica, mas agora está se expandindo e está colaborando com o Instituto Cultural Bantu engajando jovens para essa fase da criação. Conta que está aberta a parcerias e diálogos pois, estão nos primeiros passos da sua caminhada. Se colocou aberta para receber colaboração. Encerrou apresentando o vídeo da música Oi, Peixe-boi!
Maria Tereza Lanza | Fundação Florestal/SP [BRASIL]
Se presenta como gestora da APA Marina do Litoral Centro, de São Paulo, explica que é ligada a Fundação Florestal que é um órgão ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística. Fala que veio contar sobre o projeto “O mangue no meu quintal” que desenvolvem.
Retoma o histórico da APA Marinha Litoral Centro em São Paulo que foi criada em 2008, localiza territorialmente a APA, relatando que fica bem no centro do litoral paulista e fala quais são as cidades que a compõem (Santos, São Vicente, Bertioga, Guarujá, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe). Conta que a região compõe mais de 1 milhã de hectares por isso foi dividida em 3 para que fosse possível ter uma gestão mais alinhada com as características do território físicas e culturais. Lista o que protegem com a APA: praia, costões, ilhas, lajes e parcéis, manguezais, recifes de corais, peixes, répteis, mamíferos marinhos e aves.
Relata que há várias áreas de manguezais nessa APA e que existem vários desafios a sua conservação pois, estão em locais bem próximos da cidade, então recebe muito esse impacto. A APA tem esse papel de fiscalização para garantir a qualidade ambiental para a sustentabilidade do uso desse território.
Traz que entre os anos de 2018 e 2022 houve cerca de 503 autuações de infrações no território, mas sabe que tem muito mais ações irregulares que infelizmente eles não têm capacidade técnica e de pessoal para se inteirar e tomar as medidas necessárias. Essa APA é a maior do estado de São Paulo e a segunda maior do Sudeste. Por esse entenderam que apostar no poder da educação ambiental para fortalecer a defesa dos manguezais, trazendo as comunidades que estão ali do lado do manguezal para protagonizar a defesa do manguezal, então surgiu o projeto “Mangue no meu quintal”.
Conta que a inspiração para existência do projeto veio da experiência que teve quando seu filho fazia maternal e ela propôs diversas ações relacionadas a manguezais que foram bem recebidas pela professora, mensalmente realizavam essas ações, por exemplo, a retirada de lixo da área de manguezal, fazia mudas. A partir disso os pais também começaram a manifestar interesse e participar nos dias das atividades, houve inclusive uma trilha para os pais e as crianças conhecerem o manguezal em um domingo. A partir disso viu a importância de dar escala aquele projeto, envolver o público que está no entorno do mangue, vendo que a partir da escola e da educação isso foi possível envolver toda a comunidade. Então passaram a trabalhar esse projeto dentro da APA Marinha e foram expandindo para outros municípios.
Faz a síntese de que o projeto tem como público alvo é o professor, o objetivo é dar subsidio para que os professores possam desenvolver o conteúdo dentro da sala de aula, com a expectativa de que esse conhecimento extrapole os muros da escola.
Relembra sua trajetória pessoal de que na época estava também dando aulas e a todo momento era cobrada produzir determinados produtos, como painéis projetos pontuais, e os conteúdos que tinha planejado acabavam ficando em segundo plano. Por essa experiência teve uma preocupação em garantir que esse projeto não fosse mais uma demanda para sobrecarregar os professores, mas sim que fosse mais um instrumento para integrar e facilitar o desenvolvimento dos conteúdos. Então a proposta foi de inserir o vocabulário e os elementos dos manguezais em todas as matérias, por exemplo, dentro dos problemas matemáticos. Olharam para as habilidades determinadas na BNCC e pensaram como incluir a temática dos manguezais, além de trazer para dentro do calendário escolar, a partir de uma exigência que existe no estado de São Paulo de que haja nos municípios a inclusão de datas comemorativas ambientais neste calendário. A partir disso fizeram uma equalização entre as dadas escolares que deviam ser celebradas com as datas comemorativas do território para estabelecerem um calendário de conteúdo a serem trabalhados ao longo do ano. Por exemplo, março tem que trabalhar com água, em setembro tem que trabalhar com árvore. O projeto também está alinhado as necessidades colocadas pelo atendimento as ODS e as certificações que o Estado de São Paulo exige dos municípios.
Fala que existe um Portal em que são cadastradas todas as pesquisas que foram feitas nas unidades, para realizar pesquisa no território é obrigatório buscar uma autorização, porém, as informações produzidas não necessariamente chegam as comunidades muitas vezes ficam paradas nas prateleiras das universidades. Por isso construíram uma forma das pesquisas serem uma devolutiva palpável, didática e direta as comunidades, para que tivessem acesso às informações e pudessem tomar as decisões baseadas nas informações.
Relata que quando realizaram o plano de manejo um dos resultados mais chocantes que tiveram foi que ninguém sabia o que era a APA Centro, em um universo de 3 milhões de pessoas ninguém sabia o que era. Cita brevemente outros objetivos do projeto que inclui fazer a iniciação científica nas escolas e promover construções coletivas.
Apresenta como se deu o calendário do projeto ao longo do ano e os temas de manguezais trabalhados em cada um deles que são: março a água, abril a lama, maio a trama, junho estuário, setembro o mangue e outubro as aves.
Fala quais são os materiais que tem para apoiar os professores que são os Cadernos com conteúdo elaborado por pesquisadores que fazem a transposição de suas pesquisas em uma linguagem acessível para dar embasamento às atividades dos professores e aos conteúdos que serão trabalhados na escola. Para isso utilizam as informações que tem no cadastro de pesquisadores do território e isso é um diferencial, pois, tudo é elaborado com base no território mesmo.
Na elaboração dos cadernos para os educadores, os Centros de educação Ambiental que existem no território e que já realizam atividades lúdicas, registraram as atividades que costumam desenvolver em seus locais e assim deixaram disponível planos de aula para as professoras de forma detalhada.
Conta que existe o Caderno do Educando que insere o vocabulário, o contexto do mangue em atividades de diferentes linguagens, por exemplo, usar palavras desse universo para ensinar separação silábica.
Por uma necessidade gerada pela pandemia também elaboraram material de forma digital. Por fim, elaboraram também vídeo aulas com os pesquisadores autores dos materiais que fica disponível na plataforma.
Apresenta os resultados do projeto nos últimos 3 anos: 2020 e 2021, foram 54 educadores inscritos e 1089 educando contemplados; em 2022 foram 88 educadores inscritos e 3080 educandos contemplados; e em 2022 foram 86 educadores inscritos e 3010 educandos contemplados.
Reforça que esse é um grande projeto de articulação porque sem os parceiros que apoiam a realização dos cadernos e todas as demais ações ele ficaria inviável, então traz um exemplo de parceiro que merece destaque por sua atuação, o CEA Bertioga. Apresenta a ação do Barco escola: Arca do saber que já atingiu mais de 10 mil pessoas, é uma ação voltada a todos os educandos do 5º ano, uma chalana que percorre os manguezais realizando várias ações educativas, foi financiado pelo FEHIDRO (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) e hoje é todo custeado pela prefeitura de Bertioga. Fala de demais parceiros, o CEA de Itanhaém que possui um museu sensorial de manguezal. A UNESP com o curso de ciências biológicas, que coloca como desafio de final de curso para os alunos elaborarem um jogo para os professores usarem dentro da sala de aula, vários dos jogos podem ser baixados pela internet inclusive. Mostra um quadro com quem são os parceiros presentes na realização do projeto Mangue no Meu Quintal, reforçando que é um trabalho em rede e que estão abertos a outras contribuições.
Complementou que há nos cadernos um capítulo intitulado História de pescadores onde tentam registrar esses novos folclores, acredita que é necessário renovar essas histórias.
Mediador: Fala que Chiara e Maria trouxeram um aspecto muito importante que é adaptar a linguagem acadêmica para realidade local. Cita Paulo Freire e a importância da utilização dos termos locais, pedagogia do oprimido para gerar conexão e transformação. Reforçou também da existência de um calendário para que o trabalho da educação ambiental não se dê apenas em datas pontuais, ela precisa ser uma ação continuada.
Maricéia da Silva Villas Boas | Bióloga e Educadora Ambiental/SC [BRASIL]
Cumprimenta a todas as pessoas e apresenta o título de sua apresentação: Impactos da educação ambiental nas áreas de manguezais. Ressalta que muitas vezes entendemos impactos apenas como algo negativo, mas nem sempre é assim.
Mostra uma área de manguezal no Rio de Janeiro onde morou durante 20 anos, conta que é nascida em Florianópolis, neta de pescador com muito orgulho. Trabalhou com o grupo Mundo da Lama e desenvolveu várias técnicas na área de educação ambiental e isso teve um impacto positivo no território. Detalha que a região da foto é a de Guaratiba que contempla uma área de depósitos arqueológicos, chamada também de Restinga da Marambaia, onde exército e marinha fazem treinamento de guerra com bala e canhões, mas realizaram o trabalho nessa região.
Apresenta o Projeto Mangue Vivo desenvolvido de 2000 a 2004 que renderam dois trabalhos que foram: a monografia Manguezal laboratório vivo para educação ambiental e a dissertação de mestrado O uso do flanelógrafo em educação ambiental em áreas de manguezal da região de Guaratiba, Rio de Janeiro.
Apresenta brevemente um mapa com as áreas cobertas por manguezais e salienta qual é a região que trabalhou, Guaratiba–RJ. Explica o motivo da escolha da região que se deu porque na época tinha muita ocupação irregular, derramamento de esgoto, pesca de arrasto com traineiras, catadores com Laço (redinha). Relata o período da coleta de dados, durante fevereiro a agosto 2002 e nos mesmos meses de 2003, no universo envolvido eram 1501 alunos, do ensino infantil até o nono ano. Descreve as escolas envolvidas no projeto:
Escola Municipal Ana Nery que fica bem de frente para praia de Guaratiba com 174 crianças como alunos, todos de famílias de pescadores da região, que moravam bem perto da escola, 10 professores e 6 funcionários;
Escola Municipal Vieira Fazenda., dentro da de Restinga da Marambaia, com 527 crianças como alunos, todos os filhos de pescadores, que moravam bem perto da escola, 30 professores e 9 funcionários;
Escola Municipal Professor Castilhos, que na época estava em reforma e atendia 800 crianças de famílias de baia renda que moravam próximas, contava com 15 professores 6 funcionários.
Apresenta a ferramenta usada para esse trabalho que foi o Flanelógrafo, explica que essa é uma ferramenta desenvolvida por um francês Jean Jackes Dulin em 1876, que queria melhorar a qualidade de ensino nas escolas em que trabalhava, não queria ficar apenas no giz e na lousa. Essa foi uma ferramenta usada também na escola dominical usavam para dar aula de religião.
Relata que houve dois momentos na execução do projeto um antes e outros depois da apresentação do recurso do flanelógrafo. Pediram as crianças que desenhassem o que entendiam do ecossistema dos manguezais nesses dois momentos. A partir dos desenhos e um estudo profundo deles, geraram vários gráficos e planilhas mostrando o antes e depois da apresentação do flanelógrafo, qual o impacto que a ferramenta teve para as crianças. Gráficos apresentando quais elementos biológicos (separados em árvore, caranguejo, homem, peixe, ave, siri, mulher) existiam, antes e depois da apresentação da ferramenta, nos desenhos das crianças. Mostra que houve um crescente e que todos os desenhos tinham caranguejo, mesmo após um ano do contato com o flanelógrafo ao solicitar novamente os desenhos as crianças mantiveram a mesma diversidade de elementos biológicos representados. Portanto, o flanelógrafo se mostrou como um recurso de grande aprendizado.
Mostra também o gráfico de elementos geofísicos (lama, toca, sol, céu, rio e mar) que houve crescente no conhecimento sobre quais elementos existem de fato no manguezal. Por fim os elementos materiais (casa barco, lixo, vara de pesca, sacola de pesca e dinheiro), conta que sempre aparecia casa.
Mostra brevemente alguns desenhos que as crianças fizeram na época e a diferença de representações conforme as faixas etárias. Relata alguns desdobramentos do projeto, a inclusão dele no projeto político pedagógico da Escola Professor Castilho envolvendo toda a escola, a Cartilha Aprendendo com o Manguezal, Alfabetização, escrita por ela para que a professora pudesse usar para a alfabetização.
Por fim deixa a mensagem de que a vida dos manguezais em comunhão está em nossas mãos.
Carla Hage Ferraz | Emanar Social/BA [BRASIL]
Se apresenta como oceanógrafa e conta que trabalhou desde o início em comunidades tradicionais e com educação ambiental, o título da apresentação é: Um caminho para educação ambiental. Reforça que como já viram há muitas possibilidades para educação ambiental e ela vem apresentar mais uma.
Apresenta sua empresa Emanar, sua sócia Júlia Abdias que é socióloga e psicoterapeuta, e diz que resolveram juntar suas habilidades como o objetivo de trazer estratégias sociais e participativas na comunicação entre comunidades tradicionais, órgãos governamentais e empresas privadas.
Salienta alguns pilares da educação ambiental para atuar em qualquer instancias: não levamos informações prontas para que as pessoas repitam; fomentam um processo de conscientização para que as pessoas possam lidar com qualquer adversidade, não é algo ensinado a ser repetido, mexem com conscientização partindo de territorialidade. Porque precisamos nos identificar, quando a gente entende que temos um território e que ele é nosso a gente quer que ele perdure, por isso a sustentabilidade que entende que é tão complexa que precisamos de vários atores para garanti-la, de uma interdisciplinaridade. A participação em termos de ação, não adianta só falar e precisamos de uma coletividade de pessoas para que a ação perpetue. O grande objetivo é a transformação social que é o nosso objetivo.
Explica que a ferramenta de elaboração de mapas que utiliza é o Mapeamento Biorregional, essa é a ferramenta trazida por um canadense para Universidade Federal da Bahia, conheceu dentro da universidade realizando uma atividade extracurricular desenvolvida em comunidade e segue a utilizando por acreditar em seu potencial. O nome vem da junção dos termos: bio de vida e regional de região, um mapeamento feito pela vida, pelas pessoas que vivem naquela região. Conta que são facilitadoras para que as próprias pessoas que vivem ali possam fazer, é um mapa participativo, temático, pois vem de uma demanda específica da comunidade, precisa ser técnico com os elementos cartográficos necessários e político porque mostra o olhar, a opinião das pessoas que vivem no território. Resume que é uma ferramenta que uno técnica cartográfica com os saberes populares.
Apresenta como é um mapa biorreginal e quais são os elementos que ele tem, o título que traz a ideia do mapa, que ele quer transmitir, onde ele foi feito. A escala, a data, a legenda, as coordenadas geográficas, as histórias, as fotos. Exemplo, mapa feito na intenção de um turismo de base comunitária na comunidade de Ponta de Nossa Senhora.
Comenta que tem várias linguagens em um mapa, tem elementos que trazem o que está querendo ser dito, não é só nas letras então quem não sabe ler também consegue acessar as informações do mapa.
Apresenta outros exemplos, um mapa feito no vale do Iguape por 5 comunidade que quiseram retratar a importância da água, das fontes de água e da área do manguezal. Apresenta outros mapas feitos pela comunidade de Graciosa que fica no município de Taperoá comunidade de pescadores e ostreicultores, que quiseram retratar toda a produção e as artes da pesca, as espécies e os conflitos que existiam na região. Conta que durante esse trabalho surgiu uma nova demanda, pois um empresário de fora entrou com um pedido de sessão de águas públicas para usar aquela região como área de produção de ostra e isso conflitava com a comunidade que já tinha sua produção ali. Como universidade na época, entraram com um pedido em nome da comunidade para utilização daquelas águas, visto que havia um decreto de 2003, que dizia que as comunidades tinham prioridade em áreas que fossem da união para a produção aquífera. Relata como foi esse processo que passou primeiro por estudar um referencial teórico com uma linguagem técnica muito difícil até para as pesquisadoras, depois repassar em linguagem acessível para a comunidade e assim construir o estudo com a participação de fato, para isso utilizaram da ferramenta do mapa biorregional e aplicaram. Fizeram junto a eles o mapa batimétrico, e o planejamento dos dejetos, a estrutura de forma comunitária, a disposição de forma extensiva para impactar menos. Um segundo mapa foi sobre os conflitos existentes no território quanto a seus usos e o terceiro mapa era da área de influência da comunidade, quais são as áreas ao redor da comunidade que ela tem relação.
Mostra que a ferramenta traz como alguns resultados, um processo de auto reconhecimento, mais do que o produto do mapa estão buscando o processo de educação; traz um resgate histórico-cultural e territorial juntando gente de várias idades. Salienta a importância do registro documental desses saberes que geralmente são transmitidos através da oralidade, registro transversal acredita que a tecnologia de mapas está se expandindo sendo uma linguagem que vai se tornando cada dia mais acessível, assim a comunidade vai conseguindo se comunicar mais com as instituições, é uma linguagem cartográfica universal, não depende apenas da escrita. O grande objetivo é usar da ferramenta como elemento de luta e resistência.
Deixa o contato da Emanar reforçando que estão lá para realizar parcerias.
https://www.linkedin.com/company/emanar-social/
Mestre de cerimônia: Vitor Santana dissolve a mesa e agradece a participação de todas as pessoas.
Finaliza com uma apresentação de Carlinhos e Clarice Maria Neves Panitz, cantando a música O Encontro.
MÚSICA ENCONTRO (GRUPO CANTAROLAMA)
O rio se encontra com o mar
Veja como é rica a lama que dá
Cresce o mangue e com ele a criação
Peixes e marisco é alimentação
Não corte o mangue porque
Pode morrer a vida que tem dentro do mar
O pescador tem no mangue sua vida seu sangue
Morando no pra lhe ajudar
Não corte o mangue porque
Pode morrer a vida que tem dentro do mar
O rio se encontra com o mar
Veja como é rica a lama que dá
Cresce o mangue e com ele a criação
Peixes e marisco é alimentação
Não corte o mangue porque
Pode morrer a vida que tem dentro do mar
O pescador tem no mangue sua vida seu sangue
Morando no pra lhe ajudar
Não corte o mangue porque
Pode morrer a vida que tem dentro do mar.
Carlinhos, Ressalta que Maragogipe merece ter o Memorial do Manguezal Agriculta e Pesca, um centro pare receber e acolher todos os visitantes interessados na temática, os engenheiros e pesquisadores. O seu memorial, o seu museu do manguezal, agricultura e pesca.
Por fim há a apresentação de um vídeo breve da com fala da Diretora Ministério do Meio Ambiente, Ana Paula Prates, que parabeniza pela realização do evento e exalta a importância dos manguezais. Apresenta brevemente também a importância que esse ecossistema tem para a retomada da agenda e para o Departamento de Oceano e Gestão Costeira, sendo prioridade para estratégia nacional. Informa também que tem como representante no evento a secretária geral Adriana Leão, secretária geral.
Mesa 3 – Desafios para a conservação e restauração dos manguezais
GLOBAL MANGUE
Fórum Internacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais
Data: 17/10/2023 – terça-feira
Horário previsto: 16h15
Atividade: TEMA – Desafios para a conservação e restauração dos manguezais
Palestrante: Geraldo Guilherme José Eysink | HC2 – Gestão Ambiental/SP [BRASIL]
Mesa redonda
Mediadora: Luana Ribeiro | Secretaria Meio Ambiente da Bahia/BA [BRASIL]
Expositores:
Taise Bomfim de Jesus | Univers. Estad. de Feira de Santana [BRASIL]
Dayene Santiago | Projeto OLAMAR – UFPA/PA [BRASIL]
Madson Galvão | Laboratório de Ecologia de Manguezal – UFPA/PA [BRASIL]
Geraldo Guilherme José Eysink | HC2 – Gestão Ambiental/SP [BRASIL]
Inicia falando que ficou muito feliz com a forma que foi feita a abertura.
Ressalta que depois de estar junto, não tem como voltar para casa do mesmo jeito. Segunda-feira não pode ser igual a segunda passada, senão não conseguimos aproveitar tanta gente boa e com ações tão relevantes. Precisam sair dali com uma ação mais forte e comprometida com a temática.
Fala que vai trazer algumas reflexões, alguns aspectos do desafio da conservação e inicia refletindo o porquê não usamos um nome tupiniquim para nos referir ao Manguezal. Por que não usamos o nome guaparahyba, que segunda Marta Vanucci é o nome em tupiniquim?
Próxima reflexão, se a gente conhece tão bem o mangue, sabe tantos valores do ecossistêmicos, precisamos entender o que está acontecendo para ele seguir sendo degradado. Qual a ação que vamos tomar? Vai apresentar algumas ações que ocorreram para entender e poder pensar um plano de gestão, e para isso é muito necessário que se pense quais são as ameaças que existem para os manguezais e quais e porquê elas estão acontecendo.
Mostra uma ação feita Iguape Cananéia, conta que em 1927 foi construído um canal, hoje chamado de Valo Grande, para reduzir o trajeto dos barcos. Isso gerou impactos nas áreas de manguezais fazendo com que recebessem um volume bem mais alto de água doce do que antes, isso tem danificado muito essas áreas e a única forma de reverter isso é pensar um plano de desassoreamento do Rio Ribeira e também a construção de uma barragem para frear essa água temporariamente. Ressalta que uma ação feita em 1927 hoje tem um reflexo negativo nos manguezais.
Fala de um grande desafio que os pesquisadores e cientistas tem que é o de valorar os serviços ecossistêmicos dos manguezais, que isso ainda não foi feito. Ressalta isso como muito importante de ser respondido. Sugere um caminho que é pensar, se tem 1000 famílias que sobrevivem de tainha, faz isso vezes o salário mínimo consegue entender um pouco. Pensar o valor do ecossistema em termos de dinheiro, por exemplo.
Cita outras ações que impactam negativamente os manguezais na região da qual está falando, que é a construção dos camaroneiros, ampliação do porto, lançamento de petróleo no mangue, lixo no mangue. Salienta que é necessário entender como se dão e como se perpetuam os impactos que isso gera. Cita um caso de vazamento de óleo em Bertioga em 1983 que o óleo é encontrado até hoje. Fala do caso dos barcos grandes, lanchas de “pescadores de fim de semana” que causam uma grande marola, isso vai retirando sedimento por baixo dos mangues e faz com que eles caiam. Ressalta que é importante pensar uma ação para frear isso.
Relata o projeto que realizam desde 1993 na Baixada Santista com orientação e apoio da Dra. Yara, de restauração dos manguezais. Faz um histórico bem rápido, coloca que Iguape era o porto mais importante do estado de São Paulo e por questões estratégicas também mudou para o porto de Santos, vieram as primeiras industrias e todo mundo lançava todos os dejetos dentro da água. Em 1983 o governador Franco Montoro instituiu um programa de recuperação do Vale de Cubatão para retomar a qualidade do ar, nessa área de indústria que era muito poluído. Em 1971, mostra como era o trajeto do Rio Cubatão que foi desviado e criado um canal, que existe até hoje, e isso traz impactos negativos, a mudança de toda a forma hidrológica que novamente impacta o manguezal. Praticamente não havia mais manguezal em 1983, relata que trabalhava na CETESB naquela época e começaram a afazer análise de contaminação e perceberam algumas mudinhas de mangue nascendo na área. Em 1993 apresentaram uma proposta dos manguezais serem recuperados, conta que até aquele momento o pessoal da ampliação do porto usava os relatórios para embasar a ampliação do porto, já que o mangue estava degradado, então podiam usar a área para aumentar o porto. Trabalharam nessa proposta de recuperação dos manguezais.
Mostra a imagem de 1993 em que 254 hectares praticamente sem manguezais, escolhem uma espécie específica para plantar, a rhizophora, e tiveram 95% de sobrevivência, plantaram propágulos e plântulas e depois de meio ano o crescimento era quase igual, portanto era mais fácil plantar propágulos apenas.
Conta que tinham apoio dos pescadores, Seu Inácio que apresentou uma forma de plantar o mangue, que era muito mais eficaz, sem colocar o pé na lama. Para realização do plantio prepararam um evento que contou com a presença de 15 crianças e 5 pescadores, além das pesquisadoras envolvidas. Relata que no evento tinha camiseta, houve campeonato de desenho e outras atividades. Para realizar o plantio, o Seu Inácio a medida que a maré foi subindo as crianças foram plantando mangue, não dentro de um padrão científico que costumam impor de espaçamento específico. O resultado foi que em uma única tarde as crianças plantaram 5 mil propágulos. Complementa relatando que em um outro trabalho que realizou mais recentemente inclusive sugeriu que fosse utilizado o mesmo método com barco, a resposta que recebeu do Ministério foi que não se planta mangue com barco e que achavam que ele nunca tinha ido a um manguezal.
Mostra imagens do manguezal onde o plantio foi realizado em 1993 atualmente, em 2023 há uma grande biodiversidade presente na área. Hoje não é mais pesquisador na área então não fez um levantamento minucioso, mas pede encarecidamente para que alguma universidade olhe para aquela área e desenvolva pesquisas para identificar os impactos desse reflorestamento.
Retomando o raciocínio coloca que a primeira pergunta: O mangue sobrevive, sim ou não? Sim, depois de 2 anos já provaram que sim. Agora vamos tesar outras espécies, avaliar a biodiversidade, fazer o plantio de mais espécies para acelerar a recuperação do mangue.
Conta um pouco da trajetória que teve com professor universitário que incentivava as experiências práticas com os alunos nos manguezais e que fez isso de 1994 a 1999 e de 2010 a 2020. Apresenta uma imagem de um trabalho de Conti na área da Baixada Santista que mostra como era a área em que trabalhou em 1985, o que tem 2008 e mais recentemente fez um sobrevoo de drone e constatou que dos 1550 hectares, 1250 hectares já estão em nível de bosque. Então alguma coisa está acontecendo de bom, não analisou o nível dos bosques nem nada assim, fala que isso é trabalho para outra pessoa que queria fazer um doutorado, por exemplo. Fala que o trabalho dele era esse de tirar os fatores degradadores, o que impacta negativamente e tentar restaurar. Ressalta a importância de retirar os elementos degradadores e como com isso a natureza tem a possibilidade de fazer o restante.
Reflexo de toda a restauração, reabilitação, a gente começa a ter novamente pescadores pescando, e a presença dele é a garantia da preservação do manguezal. Enquanto tem pescador, alguém está lá e ele não vai ser degradado. O grande problema é que os pescadores e tem mais de 30 anos e os mais novos não querem mais se pescadores. Os mais jovens não vêm esperança nessa profissão, precisamos capacitar tecnicamente pela pesca, pelo ecoturismo, por outras formas, de dar esperança para os filhos verem possibilidade de sustentar as famílias com o mangue. Não quer obrigar ninguém a ficar no mangue, mas quer que eles tenham esperança nisso. Vejam no ecoturismo, por exemplo, um caminho de sustentar suas famílias, há um monte de gringos querendo conhecer os manguezais, ver um guará, eles pagam por isso. Temos que ser rápidos, porque os velhos estão morrendo e os novos não estão vindo.
O grande resultado de tudo isso foi que nasceu um instituto o ISAC – Instituto Socioambiental e Cultural da Vila dos Pescadores, que é coordenado por dona Marli, pescadora e hoje trabalha capacitando técnicos. Relembra que quando realizou o trabalho em 1993 com as 15 crianças e os caminhos que elas tomaram, sendo que um virou biólogo, um gestor ambiental e um advogado, houve também outros que morreram. Celebra o grande saldo que é ter 3 daquelas 15 crianças que são grandes defensores do manguezal. Relembra outros momentos do projeto, como o concurso de desenhos e um menino Prego que foi o vencedor, ele desenhou e deu o título “Manguezal muitas vidas numa vida”, sendo esse inclusive o título do livro que estão escrevendo agora. Mostra uma foto de Marli, fortalecendo que a presença dela ali seria muito importante, e que fez diversas atividades lúdicas no meio da vila dos pescadores.
Outro grande desafio é a questão da compensação de carbono por danos ambientais. Relata que há alguns anos atrás uma empresa pegou fogo tinha 170 toneis de 10 mil litros durante semanas pegou fogo 4 desses tonéis, os bombeiros usaram espuma, mas parte desse material atingiu 2 lagos e 11 mil metros quadrados de mangue. Foram chamados para avaliar o que aconteceu e fazer um projeto de recuperação. Apresenta como fez a conta para pensar a compensação pelos danos da queima daqueles tonéis, a pessoa degradou 10 hectares, para compensar quanto preciso recuperar? Ressalta que esse é um grande desafio para um doutorado. Ele fez o cálculo dessa área em específico e a argumentação com o Ministério Público para que ao invés de recuperar as duas lagoinhas que já estravam atrofiadas pudesse recuperar área de manguezal. Chegou ao número de 15,4 hectares georreferenciado e chegou ao número de 13 hectares. Coloca que a compensação de área é algo que precisa de um estudo científico de fato e que a compensação por dinheiro é a mais fácil, mas que o dinheiro da multa vai para não sabe onde o manguezal fica com impacto negativo.
Conta de experiências que teve e não são tão boas, tem uma estufa em Holambra e pegou 100 propágulos, porque queria ter em abundância para depois levar aos manguezais. Quando levou para o plantio, morreram praticamente todas. Isso porque colocou em uma estufa, tirou todo o stress que encontra comumente na natureza e isso fez com que as mudas não tivesses resistência as condições adversas que o manguezal pudesse apresentar. Portanto, esse tipo de estufa não é uma forma adequada de ter estoque de plantas pensando em reflorestar manguezal. O caminho é criar esse criadouro de estufas dentro do próprio mangue para ter estoque de plantas. Está vendo espaços do mangue que tem mudas que estão se desenvolvendo e podem então tirar para replantar em outros espaços.
Coloca que há agora um desafio de identificar novas áreas potenciais de manguezais degradados para realizar a restauração e a gestão. Conta que possuí um drone com o sistema LIDAR (Light Detection and Ranging), que voa a 120 metros de altura e dá uma leitura de precisão de 3 cm, consegue localizar todas as áreas em que não há vegetação e nas áreas de vegetação o tamanho do caule e das folhas. Ressalta que essa é uma excelente ferramenta para quem quer trabalhar com Blue Carbon. Apresenta um teste que fizeram usando o drone para plantar plântulas, em meia hora plantou mil propágulos. Altura foi a 60m, a caixa vira e todos os propágulos caem em formato de chuva, vão acompanhar em campo para saber se é ou não eficiente e vão testar outras espécies.
Reafirma os desafios que existem para manter vivo os manguezais e pergunta até quando o manguezal será resiliente? Necessário que haja uma reposta rápida para que consigam ainda agir. O manguezal não vai conseguir resistir para sempre. Aponta as questões que são problemáticas: expansão urbana e a produção de lixo, por exemplo.
Relatando mais experiências, conta que tiveram ataque de lagartas em 2013, todas as Avicennias ficaram sem folhas e esse ano tivemos novamente, ficou super assustado e descobriram que a origem é chinesa, vem daquelas caixas de madeira, fazem uma devastação de mangue e depois elas somem, tem uma duração pequena.
Entende que o encontro no modo dele de ver precisa organizar um documento para direcionar suas ações daqui para frente, cada um com seu potencial, com suas ideias. Precisamos ter um documento organizado para saber o que fazer daqui para frente, todos nós precisamos ter isso. O que vamos fazer daqui para frente?
Por fim, traz o que entende como é necessário para garantir a existências dos manguezais, identificar todos os fatores de stress e degradação do manguezal, definir critérios técnico de recuperação para área degradas em quantidades, por exemplo tem que recuperar 10x, 20x. Coloca que ele como empresa acha que tem que ser 30 vezes, mas que isso não basta é necessário ter parâmetros científicos. Relata que há presença de espécies exóticas nos mangues e que isso também é ruim para as espécies nativas, os órgãos ambientais têm que autorizar que essas espécies sejam cortadas e evitar a introdução de espécies exóticas nesses ambientes, elas têm de ser erradicadas e de forma rápida. Essencial para garantir a preservação do mangue envolver necessariamente pescadores e capacitá-los para o manejo e outros serviços.
O último ponto é o PSA, pagamento por serviço ambiental, que é uma das formas mais “fáceis”, corretas ou prática para começar a pagar os pescadores. Conta que quando ocorreu o desastre do fogo, apareceram 3 mil pescadores para receber indenização, sendo que tem conhecimento da existência de cerca de 200. Então não é melhor pagar bem aqueles pescadores de fato implicados na preservação do que aquele outro que degrada. Importante fazer o cadastro dos pescadores e o PSA é o caminho que acredita que protege e que garante muitas vidas nessa vida.
Mediadora: Luana Ribeiro | Secretaria Meio Ambiente da Bahia/BA [BRASIL]
Comenta que o PSA é uma política que o Estado tem buscado muito junto aos colegas do SEMA do INEMA que tem acompanhado. Cita que na Bahia tem a Lei de 2015 que estabelece a Política e o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais e está agora para ser regulamentada. Conta que tem agora capacitado os municípios para desenvolverem as suas Políticas Municipais de Pagamento por Serviços Ambientais, justamente para descentralizar e regionalizar essa política tão importante.
Dentre os desafios encontrados, já provocando a Universidade, que é um trabalho que o Estado tem feito de aproximação eu acho que Taise falou muito bem sobre isso da aproximação entre setor público, universidade e sociedade de cada vez mais criar instrumentos de indicadores de valoração desses serviços ambientais. Porque é claro que os manguezais prestam serviços ecossistêmicos importantíssimos e que esses pescadores e marisqueiras prestam serviços ambientais para preservar e restaurar esses ecossistemas, mas quando a gente vai obrigar uma empresa a fazer a compensação, quando vai quantificar isso em pagamento precisam ter algo palpável.
Precisam saber de valoração, quando esse manguezal absorve de gás carbônico, o quanto nutre os oceanos, o quanto de serviços ecossistêmicos estão ali prestados de forma quantificável. Um desafio enquanto poder público, universidade e sociedade é tornar isso palpável para poder colocar isso em prática. Como vai colocar em condicionantes de uma licença, num projeto de restauração.
A importância de ter um indicativo, tornar a valorização e a valoração dos serviços ambientais quantificáveis e palpáveis na medida do possível para que isso se torne uma prática. Assim vão poder entender até que ponto o “desenvolvimento” social e sustentável de determinado empreendimento vale a pena em detrimento aos serviços ecossistêmicos já prestados por aquele ecossistema. A gente só consegue colocar isso na balança quando tem isso quantificado e comprovado cientificamente para poder argumentar e colocar isso em prática de fato. Necessário também valorar os serviços culturais que esses povos prestam, porque são muito ricos e não são colocados na balança quanto o carbono e outras coisas.
Geraldo Eysink: Carbono é uma grande oportunidade de trazer recursos para os manguezais, visto que eles têm muita capacidade de absorção de carbono.
Expositores: Taise Bomfim de Jesus | Universidade Estadual de Feira de Santana [BRASIL]
Agradece pela participação no evento e fala da importância desse evento em Maragogipe e não ser um evento técnico científico numa capital do Estado, com apenas saberes técnico científicos específicos e sim poder ser compartilhado com a comunidade local. Que essa seja uma ideia que se propague para outras temáticas não só manguezais, porque na área do meio ambiente isso é importantíssimo.
Inicia falando o porquê da UEFS, que está lá no semiárido, está fazendo com relação aos manguezais. Intitula a apresentação “do portal do semiárido para os manguezais” e ressalta o quanto é importante não ter fronteiras geográficas para essa construção do conhecimento na universidade e o quanto não importa as fronteiras geográficas quando se quer estudar sobretudo o meio ambiente, quando se quer fazer análises nesse campo se vai onde tem que ir não importa onde a universidade está localizada. Fala da amplitude dos estudos e trabalhos realizados pela UEFS, bem antes da sua entrada, com relação as áreas dos manguezais que envolve botânica, contaminação ambiental, mapeamento e imagem, recursos pesqueiros e etnoecologia. Apresenta um pouco da própria trajetória acadêmica ligada a área da contaminação ambiental e cita outros professores presentes no evento. Fala de alguns estudos realizados nessas áreas que desenvolvem tanto alunos de IC, quanto mestrado e doutorado. Dentro de alguns desses estudos temos as áreas da Baia de Iguape, APA Tinharé-Boipepa, Recôncavo, e mais recentemente, desde 2011, o Estuário do Serinhaém localizado na região do Baixo Sul da Bahia que é uma região belíssima e riquíssima.
Explica quais foram as motivações para estudar os manguezais do Serinhaém, dizendo que muito se falou de todos os manguezais da Baía de Todos os Santos, tendo diversos estudos da UFBA e UFRB explorando bastante o levantamento de dados de conservação e preservação a partir de uma problemática, sempre a partir de um acidente de um acontecimento de degradação para estudar quais efeitos.
Relata que o que chamou atenção do Pratigi, incitados por uma organização social, a OCT – Organização de Conservação da Terra, que já influenciava na parte de serviços ecossistêmicos vinha desenvolvendo isso desde 2000 juntamente com o INEMA, já existia esse diálogo e eles queriam estimular a conservação das nascentes da APA do Pratingi, a partir desse estimulo com os próprios agricultores da região entendeu-se que precisava ampliar além de toda a área de nascentes e que isso chegasse até o Estuário Serinhaém. Ressalta a interligação que há entre os ecossistemas quando se pensa em preservação e que é necessário olhar para a nascente, que está no continente, a bacia hidrográfica até chegar o manguezal. Não adianta pensar em estratégia de preservação e conservação se olho apenas para o ecossistema final e não para todos os demais. Ao olhar para isso se depararam com uma ausência total de dados a respeito do Serinhaém. Descreve que ele é formado por cordilheiras, vales que culminam em um estuário, tudo dentro de uma APA, então é uma riqueza enorme completamente desconhecida até 2000. A partir daí então tiveram que fazer o levantamento de tudo, exemplo, botânico, aves, mapeamento de imagens e reunir sobre dados sobre o ambiente e entender se havia contaminação ambiental. Isso levou a estudar os manguezais do Baixo Sul da Bahia e muito incitado se não há nada degradando esse ambiente, se ele estava preservado, sem acidente ambiental ou ação antrópica que gere algum tipo de problema iniciaram em 2010 os estudos entendendo que aquele poderia ser um estuário modelo.
Demonstra então o trabalho que fizeram em todo o estuário ao longo 13 anos com grupos concomitantes. A quantificação de metais a partir de 91 pontos de coleta de sedimentos, encontraram 12 tipos de metais diferentes. O estudo e levantamento de solo de bacias hidrográfica do rio Juliana que começas e terminam no estuário. Fizeram a quantificação de metais em organismos, inicialmente ficaram com guaiamum pela abundância e pelo consumo próprio e agora estão passando para a parte de peixes. Por fim análise de bactérias, quais espécies estão no vale do rio Juliana e quais estão no estuário. Fala que todos esses trabalhos estão disponíveis na internet além de na biblioteca da universidade
Se questiona se estão no caminho certo, nós estamos no caminho certo? O que a gente como universidade podemos fazer, o que podemos mudar? Cita o Relatório do ICMBio de 2018, que traz informações precisas de que em 120 de unidades de conservação tem manguezais, não é algo para ser deixar para traz.
Relata que estava no Mangrove de 20 anos atrás como aluna e hoje está trabalhando para oferecer um pouco do nosso conhecer do nosso saber. Questiona se já tem os dados, o que mudou. Diante de todas as ações que todos já apresentaram de degradação, as ações antrópicas são a principal delas. Cita o último desastre ambiental no litoral do Nordeste e o fato de ainda passarmos por pequenos desastres que reverbera também no Sirinhaém, lá que é tão protegido, que imaginam estar longe também sofreu danos
Coloca as contribuições que imagina dar para elaboração da carta. Ampliar a fiscalização em todos âmbitos governamentais, dar ferramentas para essas pessoas trabalharem, é preciso auxiliar essas pessoas para que elas trabalhem. A maioria dessas ações são feitas de forma incipiente, deficiente, então a gente precisa oferecer ferramentas para que essas fiscalizações sejam mais efetivas e comecem de fato a funcionar.
Defende um GT dos manguezais na Bahia, ainda que os comitês estejam funcionando muito bem. Diz que faz questão de um GT, focado, que tenha representantes do CEMA, INEMA, da Embasa que é muito importante para entender o saneamento básico nessas cidades, SEC, Secretaria de Turismo, ONG, universidade, cada um leva o que sabe e transforma em ações efetivas.
Ressalta a importância do investimento em pesquisa, impulsionar recursos com esse fim. Coloca que ontem foi assinada marco regulatório da ciência e tecnologia e que isso a deixa mais esperançosa nesse sentido, já que ele dá uma segurança legal para abrir fundações e buscar recursos de fato para isso.
Formação continuada de professores da rede básica e a inserção de práticas educativas em todos os ambientes. Pontua os professores como vetores da comunicação já que não podem estar em todos os lugares, são eles que chegam naqueles que podem fazer algo diferente para essa preservação.
Reforça a ideia da criação do Memorial em Maragogipe para ser uma referência para outros espaços que tem manguezal e importante ter esses registros.
Mediadora: Celebra também a Regulamentação da Lei de Ciência de tecnologia e diz que estão na expectativa de regulamentar o Pagamento por serviços ambientais. Reforça que tudo isso seja colocado na carta e a importância da criação desse GT para fortalecer essa transversalidade e esse trabalho conjunto.
Dayene Santiago | Projeto OLAMAR – UFPA/PA [BRASIL]
Se apresenta e adianta que vai falar sobre impacto negativo, uma agressão ao ecossistema que é a poluição. Vai falar sobre a poluição microplástica, a presença de microplástico em manguezal. Mostra uma foto do manguezal da península de Ajuruteua no Para, que é a região em que trabalha e que estavam fazendo coleta de sedimentos para análise. Ressalta os importantes serviços ecossistêmicos que o manguezal oferece para as comunidades tradicionais e para todos nós
Responde à questão do que são micropláticos, que são pequenas partículas de plásticos que tem uma origem primária, que são partículas já produzidas desse tamanho e colocadas diretamente no ambiente a partir de materiais que usamos como por exemplo os esfoliantes faciais, dentre outros. Há uma origem secundária que vem da fragmentação do plástico maior que é degradado e fragmentando a partir da ação do intemperismo. Informa que essa partícula absorve vários outros poluentes se tornando ainda pior para o ecossistema no geral
Apresenta o que a comunidade científica conversa com a relação ao microplástico em área de manguezais. Mostra uma nuvem de palavras que representa os temas abordados nos artigos publicados entre 2014 e 2022 relacionando mangue e esse contaminante, os microplásticos. Coloca que hoje a comunidade científica realiza muito a analise polimérica, para saber de onde vem esses polímeros, por exemplo se vem de uma sacola e outros produtos de plásticos.
Os diferentes compartimentos do manguezal encontram-se contaminados por microplástico, essa hipótese vai responder no final da apresentação.
Mostra um mapa mundial em que estão destacadas as áreas de mangue e sinalizado onde foram realizados todos os trabalhos sobre manguezal e microplásticos. Há trabalhos no Brasil, continente africano e na Ásia. Sendo que na Ásia tem muitos trabalhos sobre microplásticos, porque é uma política do continente, principalmente da China, a de investimento governamental em pesquisas e pesquisadores dessa temática.
Apresenta um gráfico que demostra o crescimento de trabalhos sobre essa temática no decorrer dos anos, salientando que apesar de antes de 2014 já haver a poluição desse material desde a década 70, os trabalhos sobre a questão em áreas de manguezal só surgiram naquele ano. Aponta que os artigos aumentaram em número por esse ser um ecossistema de extrema relevância.
Os trabalhos desse período fazem as análises em sedimento, água e organismos. Apresenta que alguns desses artigos que incluem a Baia de Todos os Santos e demonstram quanto de microplástico tem por quilo de sedimentos e a média de microplástico lá é de 10.000 itens por quilo. Esse número é muito maior do que outras áreas do Brasil como Rios Amazônicos e também Irã, China. Os dados de número de microplástico encontrado nos manguezais da Península de Ajuruteua. Coloca que no norte do Brasil o manguezal é ainda muito preservado, porém observaram que mesmo lá já tem contaminação microplástica, então também precisam trabalhar para essa diminuição. Sendo necessário um trabalho tem que vai desde a educação ambiental com toda a população justamente para minimizar o aumento dessas partículas nesse ambiente.
Apresenta que o manguezal acaba atuando como um grande filtro de poluição do ambiente, sendo ela de macro ou micro plástico, fazendo com que esse ambiente se prejudique muito com essa poluição, todos organismos que fazem parte dele. Cita que esse tipo de poluição microplástica afeta inclusive os seres humanos, havendo estudos que demostram a presença dela na placenta, no coração e no cérebro, essa é uma questão já avaliada mesmo no ser humano.
Diante disso o projeto OLAMAR, vem fazendo um trabalho de sensibilização quanto a poluição de macro e micro-resíduos. Conta que recentemente foi aprovado pelo CNPQ o Observatório do Llixo Antropogênico Marinho – OLAMAR, que tem como objetivo quantificar micro, macro resíduos sólidos promovendo também a avaliação da pesca fantasma e a democratização das informações geradas ao longo da costa amazônica brasileira. Fala da costa toda mesmo, porque envolvem também Amapá, Pará e Maranhão, envolvendo dez instituições e trinta e dois pesquisadores na pesquisa que quer trabalhar um diagnóstico junto as comunidades também, trazendo esses conhecimentos para o trabalho e assim visualizarem oficinas e cursos que possam ajudar a minimizar os danos causados aos manguezais por esse tipo de poluição.
Responde que os diferentes compartimentos do manguezal sim estão contaminados por microplástico, uns mais outros menos. Ressalta a importância da realização de pesquisas para que esse diagnóstico possa ser feito de forma mais precisa. Importância de juntar com órgãos municipais, ICMBio e instituições que fazem esse tipo de trabalho e comunidades que estão inseridas ali
Agradece ao professor coordenador do projeto Marcus Fernandes e a todos os organizadores do evento.
Mediadora: Jovens pesquisadores que estão desenvolvendo tecnologia pensando a poluição dos oceanos por microplástico. Falamos muito dessa questão no oceano, mas ainda não sobre os mangues.
Madson Galvão | Laboratório de Ecologia de Manguezal – UFPA/PA [BRASIL]
Madson Galvão se apresenta como biólogo formado pela Universidade Federal do Pará, mestre e finalizando o doutorado do programa situado em Bragança e faz parte do Laboratório de Ecologia de Manguezal – LAMA. Um laboratório que atua em várias vertentes ecologia do manguezal fauna e flora e humana, é multidisciplinar e desenvolve tecnologias que pensam na mitigação de de gases de efeito estufa, produção de mudas dentro do manguezal para restauração de áreas degradadas
Fala da importância da atuação em rede para o LAMA, como ponto importante, cooperação de diversos pesquisadores dentro e fora do país, apresenta alguns desses pesquisadores e liderança dessa pesquisa que é professor Marcos Fernades. Fala dos desafios que tem para conseguir recursos que são muitos escassos para pesquisa.
Localiza de qual região está falando na sua pesquisa, região costeira amazônica, na península de Ajuruteua, dentro da RESEX de Caité Taperaçu, tendo a direita o estuário do Rio Caité do outro lado o estuário do Taperaçu, reforça que é uma unidade de conservação.
Conta que ele trabalha especificamente com as propriedades tecnológicas das espécies arbóreas de mangue que são dominantes na costa amazônica e em todo o Brasil: Rhizophora mangle conhecido como mangue vermelho; Avicennia schaueriana conhecida como mangue preto e a Laguncularia racemosa que é o tinteiro. Apresenta os resultados que colheu desenvolvendo o trabalho com de 3 espécies.
Descreve o processo de pesquisa para entender mais dessa tecnologia sendo que o primeiro passo foi mapear o conhecimento tradicional dessas comunidades que estão dentro do RESEX e no entorno do manguezal.
O principal uso da madeira do mangue hoje na costa Amazônica é de energia seja ele para produção de carvão ou lenha, relata que isso se estende para outras regiões do Brasil e em outras regiões do planeta. A segunda utilização é para fazer Curral de pesca que é um apetrecho que é utilizado para pesca de peixe. Monstra uma imagem aérea de um projeto da Prefeitura Municipal de Bragança Projeto Curral em que eles estão mapeando todo as áreas de todos os currais e quantificando as espécies e já contaram cerca de 6 mil varas, ou seja, 6 mil indivíduos de Laguncularia racemosa foram cortados para a construção desses currais de pesca. O terceiro uso é para construção civil: casas, ranchos (apoio ao curral de pesca), cercados de gado, porco, galinha, etc.
Apresenta o segundo passo que é a abordagem tecnológica científica dessas madeiras, diz que vai abortar as propriedades técnicas energética e a mecânica das três espécies que abordou inicialmente. Apresenta os rendimentos das arvores do ponto de vista técnicos.
A Laguncularia racemosa é a que mais rende carvão vegetal em termos de volume e que menos rende é a Rhizophora mangle, mas não em termos energéticos não é assim que funciona. Quando mensura o poder calorífico que é uma das propriedades mais importante para medir essa energia a Rhizophora mangle é a que mais se destaca. Durante o processo da pesquisa puderam comprovar que as três espécies estão aptas para o uso como carvão, são adequadas e de segurança segundo os parâmetros, mas possuem diferenças na densidade e poder calorífico. Agora apresenta as propriedades mecânicas dessas espécies: compressão e elasticidade. A Rhizophora mangle se mostra superioridade frente a todas as outras em valores dessas duas propriedades.
Ressalta que os estudos são importantes para que possam dar um fim adequado a utilização das madeiras. Apesar de ser proibido o corte segundo o Código Florestal Brasileiro, para as comunidades muitas vezes esse é o único recurso disponível então a realidade é que o corte acontece. Então o trabalho ajuda a garantir o uso adequado e seguro para essas comunidades, em todas as suas formas. Além de ajudar a elaboração de estratégia de implementação de plano de manejo florestal e fortalecer práticas mais sustentáveis do uso dessa madeira pelas comunidades.
Coloca que tem planos futuros finalizando a anatomia dessas espécies, já iniciaram o processo da parte de anatomia da rastreabilidade dessas madeiras. Já sabem que essas madeiras são comercializadas fora das áreas das Comunidades nas cidades, tanto amadeira como o carvão vegetal e como é uma prática proibida querem realizar essa rastreabilidade tanto do carvão e como da madeira visando auxiliar nas estratégias de fiscalização dessas espécies, auxiliando na elaboração de um protocolo para isso. Lembra que atualmente o Laboratório de Produtos Florestais – LPF já fornecem no programa de fiscalização de madeiras protegidas um aplicativo que as identifica de forma bastante simplificada pelos técnicos que precisam apenas de um estilete e uma lupa conta fios para conseguir identificar essa rastreabilidade. Concluí que enviando essas imagens para o LPF incluir no seu banco de dados vai ajudar a ampliar para fiscalização e rastreabilidade dessas espécies presentes nos manguezais.
Reforça que estão bem focados também em pensar em alguma estratégia de manejo, conseguindo, por exemplo, identificar qual idade das madeiras que estão sendo utilizadas para construir os currais, garantindo uma rotação nas áreas de corte, vendo como seria possível garantir maior durabilidade para essas madeiras que quase sempre são trocadas a cada 6 meses e estudar possíveis usos dela após retirada do curral. Outro exemplo é o mapeamento de fornos que estão fazendo e entendendo qual a forma mais sustentável e de maior rendimento para produção do carvão, para evitar desperdício.
Alguns integrantes da plateia solicitam a palavras para fazer perguntas a mesa:
Frazé UEFS: se apresenta como professor da Universidade Estadual de Feira de Santana e membro do conselho deliberativo da RESEX Baía de Iguape e coloca que ficou com sentimentos contratantes com essa mesa. Elogia o fato de Geraldo ser a primeira pessoa que associou o ser humano a conservação, diz não tinha ouvido nada até agora no evento e isso é muito importante.
Direciona uma pergunta para Madson, questionando o fato dele realizar aquele trabalho dentro de uma Resex e ter como um dos principais objetivos municiar a fiscalização. Fala um pouco da sua experiência com as comunidades da Baia de Todos os Santos e que elas sabem fazer o manejo do mangue, tem o conhecimento.
Madson Galvão: Responde dizendo que isso se dá muito porque essas instituições tem uma deficiência de fiscalização e a universidade pode auxiliar nesse processo. Dá mais detalhes sobre a forma de atuação do IBAMA e o fato de as pessoas que atuam, que fizerem o curso de identificação macroscópica da madeira são pessoas do direito e outras formações, para quem tem o conheço técnico é muito difícil identificar essas madeiras cerradas, imagina para eles LPF. Entende que as universidades trabalham muito isso para madeiras da floresta amazônica e eles querem estender para os manguezais, porque já está saindo apenas do uso local, está sendo comercializado na cidade.
Sobre o plano de manejo coloca que apesar de existir um plano de manejo ele não é aplicado, os dados que temos de que há apenas 1% só de desmatamento pode estar errado, porque algumas áreas de corte são mascaradas, as imagens de satélite não conseguem ver. Normalmente esses outros que cortam tudo são pessoas que pagam por marreteiro para construir seu curral ou seu carvão para ser comercializado fora da comunidade. Não tem como objetivo atrapalhar o uso tradicional, mas sim barrar esse uso exploratória para
Airton de Grade, representante do IBAMA: Complementa colocando que a preocupação que o órgão tem não é de ir na comunidade para impedir o uso tradicional e sim a exploração comercial que saí da comunidade. Pontua que não trabalha na Amazônia, mas sabe como funciona. Nesse sentido elogia o trabalho de Madson, ressalta a sua importância e agradece, pois, será mesmo importante para o trabalho do IBAMA.
Toza Lima: Se apresenta como engenheiro sanitarista ambiental, questiona a Madson o fato dos currais serem tão perecíveis. Relata sua vivência como velejador vendo os currais da Baía de Todos os Santos que existem há muitos anos. Pergunta se não há nenhuma outra madeira mais resistente.
Madson Galvão: Explica que a dinâmica da costa amazônica é diferente, há marés gigantescas e que chegam forte nos currais, há um grande fluxo de barcos grandes e muito no mapeamento do uso muitas dessas trocas são por acidentes do barco. O projeto Curral de Pesca sinaliza os currais para que essas embarcações não os destruam e outro problema são as marés. Há áreas mais abrigadas e aí tem uma durabilidade maios, até 1ano e meio, alguns fazem com bambu no lugar do Tinteiro, que tem uma resistência ainda maior de 3 anos. Em resumo é por questão da hidrodinâmica e dos acidentes de embarcação.
Yara Novelli: Faz uma consideração sobre o fato de que apesar do mangue-vermelho ter mais caloria, ele não rebrota, já Laguncularia rebrota, corta uma e rebrotam várias. Então talvez num processo de sensibilização e capacitação o pescador sabe que se ele pegar vara a de Laguncularia , depois ele vai voltar e vai ter mais várias outras rebrotadas. Pontua que está falando de gestão e não de manejo, está muito longe disso. Cita algumas outras possibilidades que já viu para construção dos currais e que poderiam ser usadas, mas levantando que realmente a questão das marés de 9 metros são desafiadoras. Chega a conclusão que talvez a melhor opção e a mais palatável pro pescador que seria a Laguncularia, o tinteira, que no extremo sul é chamada de mangue de baraço. Ressalta a importância mesmo de pensar na gestão do uso dos recursos.
Rosalvo Oliveira: Direciona um conjunto de sugestões a fala de Taise, principalmente sobre a sua agenda muito lotada e a vontade de que muitas ações aconteçam.
O que quer puxar é o problema que está em qualquer manual básico de políticas públicas com relação à falta de integração que nós temos na elaboração e na execução dessas políticas. Isso se dá pela ausência que a gente tem no país de uma política de gerenciamento costeiro. Embora se fale que na Lei 7663 a gente se refere a ela como um plano, mas ela também não é um plano do ponto de vista estritamente formal, não resulta num plano de fato. Há uma legislação, tem um conjunto de instrumentos que está lá na 5.300, tem uma bagunça de significado e conceituação, adianta que amanhã vai abordar um pouco.
Pontua que serão obrigados a se integrarem, conta que há no estado da Bahia 23 grupos de pesquisa na zona costeira e marinha e que nunca conseguiram reunir esses grupos todos. Ressalta que não é com o intuito de monitorar a sua pesquisa e nem dizer que dela está correto e que aquela outra está errada, não é nada disso. Mas precisam como utilizadores do dinheiro público retornar à sociedade baiana e brasileira, porque são universidades federais e estaduais, tem ações e não nos faz nenhum favor. Pontua que nenhuma universidade com relação a isso apresenta sua agenda de pesquisa, especialmente no século XXI onde aqui no Brasil a gente ainda tem essa questão que é atrasada, onde a gente não abre os dados, não põe os dados na nuvem, não põe nem as nossas apresentações disponíveis para a plateia. Que tipo de integração é essa, que diálogo científico nós vamos promover dessa forma? Coloca que a questão de direito de propriedade de trabalho não é justificativa, visto que todos foram pagos para fazer as apresentações como servidores públicos.
Conclui falando sobre a importância de ter uma política, um plano para o país. Acredita que a representante do Ministério do Meio Ambiente vai essa questão, em relação ao que vai ser feito até o primeiro semestre do ano que vem que é essa política para preservação do dos manguezais. Mas ela tem que estar articulada com uma política e plano nacional de gerenciamento costeiro como está lá no artigo 225 da Constituição Federal.
Taise Bomfim de Jesus: Responde que tem uma agenda muito atribulada e tem uma inserção em muitas frentes porque dentro da universidade poucos fazem muito e isso acontece em todas as instituições públicas. Exemplifica que de 50 professores capacitados apenas 5 deles se fazem repetir em tudo, em todos os Conselhos. São poucos diante de um corpo docente que poderia estar mais envolvido com as políticas públicas e com os Comitês para levarem essas informações, para estarem unindo essas entidades. Infelizmente tem esse cenário, mas tem certeza que eventos como esse prático, que une Estado, Município, Universidades e a comunidade trarão novas visões e novas conexões para que essas políticas públicas efetivamente sejam colocadas em prática. E vem daí a proposta que fez para criação de um GT.
Carta de Maragojipe aos Manguezais
CARTA DE MARAGOGIPE AOS MANGUEZAIS
A Carta de Maragogipe aos Manguezais, proposta durante o GLOBAL MANGUE – Fórum Internacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezais, representa um compromisso renovado com a conservação desse ecossistema. Este documento é resultado da colaboração entre cientistas, ambientalistas, líderes comunitários e formuladores de políticas, todos unidos pelo objetivo comum de proteger os manguezais. Reconhecendo o papel vital dos manguezais na manutenção da biodiversidade, na proteção costeira e na mitigação das mudanças climáticas, a carta propõe ações concretas para enfrentar desafios como a degradação ambiental e a exploração insustentável dos recursos naturais.
O GLOBAL MANGUE proporcionou um espaço de diálogo e aprendizado, onde experiências e conhecimentos foram compartilhados para fortalecer as estratégias de educação ambiental e gestão dos manguezais. A Carta de Maragogipe é um chamado à ação, instando governos, organizações não-governamentais, empresas e a sociedade civil a trabalharem juntos para assegurar a preservação desses habitats únicos. Com diretrizes claras e práticas recomendadas, a carta busca promover a conscientização e o engajamento contínuo, visando garantir um futuro sustentável para os manguezais e as comunidades que deles dependem.
As propostas constantes na presente carta, reunidas em eixos, encontram-se abaixo relacionadas:
1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Item transversal aos demais tópicos visando, em linhas gerais, promover a educação ambiental e a cidadania como instrumentos de inclusão e transformação social.
1.1. Estimular a elaboração e a difusão de metodologias, técnicas e ferramentas a serem utilizadas nas ações de educação ambiental, desenvolvendo, inclusive, o uso de novas linguagens digitais e destacando o folclore e as lendas dos manguezais.
1.2. Utilizar, em todos os materiais didáticos, linguagem inclusiva, direta e simples, pensando nas estratégias a partir dos públicos-alvo.
1.3. Fomentar diálogo entre órgãos responsáveis pela educação, visando incluir professores(as) como público-alvo para multiplicar os conhecimentos necessários a uma educação ambiental inclusiva.
1.4. Debater sobre as melhores formas de incluir a temática dos manguezais aos conteúdos interdisciplinares, de forma transversal, nas escolas dos territórios e comunidades das áreas e no entorno dos manguezais.
1.5. Fomentar eventos de difusão de caráter técnico-científico, como também o intercâmbio entre instituições de ensino superior, fundações, centros de pesquisa, colônias de pescadores e demais instituições de representação social.
1.6. Buscar maior protagonismo de “saberes e fazeres” das comunidades tradicionais, como base para a construção de uma educação ambiental inclusiva nas áreas associadas a manguezais.
1.7. Garantir que haja intercâmbio entre os diversos espaços que realizam ações de educação ambiental, fortalecendo as trocas e acúmulo de aprendizados, bem como a difusão de atividades exitosas que possam contribuir com as ações educativas, na educação formal e informal.
2. SUSTENTABILIDADE
Instrumentos norteadores para ações de sustentabilidade:
2.1. Fomentar melhorias na gestão das UCs – Unidades de Conservação que incluam manguezais em seus domínios, visando a elaboração e a implementação dos respectivos planos de manejo, priorizando diretrizes para conservação dos manguezais;
2.2. Promover debates e estudos com vistas ao estabelecimento de parâmetros técnico-científicos para a avaliação da capacidade de suporte do ecossistema diante do quadro de mudanças do clima; incluindo indicadores dos serviços prestados pelos manguezais;
2.3. Fomentar políticas de PSA – Pagamento por Serviços Ambientais, destacando a sustentabilidade socioeconômica das comunidades tradicionais que vivem nas áreas de manguezais.
2.4. Utilizar campanhas de educação ambiental visando redução do consumo de insumos advindos de práticas irregulares que comprometam os manguezais, tais como o consumo de alimentos oriundos da pesca predatória (com bomba, carcinicultura e outras), de madeira retirada de forma irregular, entre tantas outras.
2.5. Fomentar e apoiar as políticas de conservação de ecossistemas adjacentes aos manguezais (ex: mata atlântica, restingas, dunas, estuários), fundamentais para sua manutenção.
3. COMUNIDADES TRADICIONAIS
Propostas para fortalecer a participação das comunidades tradicionais nos processos de decisão e de construção das políticas públicas:
3.1. Promover o intercâmbio entre o conhecimento técnico-científico e os “saberes e fazeres” das comunidades tradicionais das áreas de manguezais e entorno, de forma horizontal, harmônica e democrática.
3.2. Buscar parcerias e canais de comunicação entre as comunidades tradicionais das áreas de manguezais e parceiros técnicos, quando da elaboração de novas ações de políticas públicas.
3.3. Fomentar a formação técnico-científica de grupos voltados à pesca, ecoturismo e demais atividades econômicas de subsistência, para jovens oriundos das comunidades tradicionais das áreas de manguezal, apoiando suas permanências nos respectivos territórios.
3.4. Fomentar a implementação das políticas de demarcação de terras para as comunidades tradicionais, visando a conservação ambiental com garantia aos direitos legais e à justiça social.
3.5. Firmar parcerias para a realização de campanhas informativas de combate aos crimes ambientais, em especial sobre o desmatamento, a pesca predatória e ilegal, o aterramento e a invasão das áreas de manguezal pela especulação imobiliária.
4. CONSERVAÇÃO DOS MANGUEZAIS
Proposta de ações para estimular a implementação de mecanismos de gestão ecológica para a efetiva conservação dos manguezais:
4.1. Fomentar redes cooperativas para a recuperação de áreas de manguezais alteradas.
4.2. Exaltar o manguezal como um dos elos fundamentais para a conservação da conectividade entre os ecossistemas costeiro-marinhos.
4.3. Apoiar os órgãos gestores na realização de mapeamentos, com vistas ao diagnóstico socioambiental das áreas de manguezal do Brasil.
4.4. Envidar esforços junto às instâncias políticas para garantir uma gestão pública eficiente na conservação dos manguezais.
4.5. Insistir, junto aos tomadores de decisão, sobre ações legais no sentido de coibir atividades em desacordo com a saúde do ecossistema, tais como pesca com bomba, uso de redes de malha fina, carcinicultura, entre outras que comprometam as características ecológicas dos manguezais.
4.6. Garantir a permanência das comunidades tradicionais nas áreas de manguezal e seus entornos, reconhecendo que seus “saberes e fazeres” garantem o uso sustentável e a conservação dos manguezais.
4.7. Definir critérios técnicos para a proposição de ações de recuperação de áreas de manguezal alteradas, fazendo uso dos conhecimentos empíricos locais, das comunidades tradicionais.
4.8. Envolver representantes das comunidades tradicionais locais nas proposições de atividades de fiscalização, garantindo a compatibilidade com os instrumentos a serem empregados.
4.9. Garantir o cumprimento das sanções e multas aplicadas às empresas e agentes que tenham comprometido tanto a estrutura como o funcionamento de áreas de manguezais ou áreas adjacentes, de forma que as mesmas observem o melhor conhecimento técnico-cientifico disponível.
4.10. Fomentar estudos técnicos e pesquisas em áreas de manguezais voltados à solução de questões relacionadas à gestão, como por exemplo estudos que avaliem a eficiência da conservação e a recuperação do ecossistema.
4.11. Garantir, na forma da lei, ações positivas de interação entre as agências das três esferas da administração pública, objetivando a conservação dos manguezais e de suas gentes.
5. MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O CARBONO AZUL
Propostas proativas que contribuam para mitigar os efeitos das mudanças climáticas no ambiente e na sociedade, destacando o manguezal como um sumidouro de CO2:
5.1. Incluir os conhecimentos técnico-científicos disponíveis na construção e proposição de planos de gestão e governança dos ecossistemas costeiro-marinhos do País.
5.2. Avaliar os impactos socioeconômicos decorrentes das alterações do clima sobre o equilíbrio funcional dos recursos pesqueiros dos estuários, como um possível deslocamento de espécies responsáveis pela subsistência das comunidades tradicionais incluindo, a possibilidade de geração de conflitos entre os usuários dos recursos.
5.3. Estimular o diálogo, a troca de experiências e a aplicação de ações concretas para o enfrentamento às crises e emergências climáticas no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1. Proposta que a música “O Encontro” seja adotada como “Hino dos Manguezais” e dos ENEAAM’s.
6.2. Criar o “Memorial do Manguezal” na cidade de Maragogipe.
6.3. Criar núcleos de extensão em instituições de ensino superior, onde sejam oferecidos cursos de oceanografia, pesca, engenharia de pesca, aquicultura, biologia marinha, entre outros afins.
6.4. Criar um Grupo de Trabalho no Estado da Bahia que congregue instituições de ensino e pesquisa, órgãos públicos de diferentes esferas de poder, sociedade civil e comunidades tradicionais, para que cada um contribua com suas experiências na construção de ações.
Luiz Carlos Brasileiro de Andrade
Coordenador Geral
Local Mangue – demandas da RESEX Baía do Iguape
LOCAL MANGUE
“Pensar globalmente, agir localmente”. Eis um dos principais axiomas da Educação Ambiental. Neste sentido, se imperativo que em um Fórum Internacional de Educação Ambiental, intitulado Global Mangue que se jogue luz também sobre demandas de um “Local Mangue”.
A Baía de Iguape abriga manguezais que estão entre os mais conservados da grande Baía de Todos os Santos, da qual faz parte ainda a Baía de Aratu. Intimamente associados a estes manguezais, há séculos, milhares de famílias de pescadores e pescadoras vem utilizando seus recursos de forma mais racional, sem, portanto, colocar em risco os estoques pesqueiros e os demais componentes do ecossistema (Etnoconservação).
Esse importante e intensa relação, serviu de base, inclusive, para a criação da Reserva Extrativista Marinha Baía de Iguape no ano de 2000, visando a proteção dessa sociobiodiversidade.
Ainda assim, o ecossistema manguezal local tem sofrido nos últimos anos uma série de impactos ambientais deletérios que têm comprometido fortemente sua estrutura e funcionalidade e, consequentemente, levado a graves conflitos socioambientais.
A construção e implementação de grandes empreendimentos (Estaleiro Enseada do Paraguaçu e Usina Hidroelétrica da Pedra do Cavalo), a poluição, o cultivo de eucalipto, a especulação imobiliária, associados à ineficientes e/ou negligentes políticas ambientais governamentais, bem como à morosidade da justiça, vem comprometendo seriamente a sobrevivência das comunidades pesqueiras locais.
Pensando nisso, que elencamos aqui algumas propostas que minimizariam a gravidade desta situação. São elas:
- Implementação imediata de uma vazão ecológica do Rio Paraguaçu (verão e inverno) através da adequação da estrutura operativa da UHE e da Barragem de Pedra do Cavalo, com vistas à manutenção das condições hidrológicas e ecológicas adequadas do estuário à jusante; bem como, garantir de medidas compensatórias por todos os impactos e danos causados aos manguezais e a suas comunidades tradicionais associadas desde a sua instalação;
- Regularização fundiária através da homologação e titulação dos territórios quilombolas da Baía do Iguape pelo poder público, bem como implementação de políticas habitacionais nas cidades de Maragogipe, São Félix e Cachoeira, visando conter a ocupação e expansão urbana sobre as áreas de manguezais e apicuns, garantindo assim dos modos de vida e das práticas sustentáveis dos povos das águas;
- Suspensão e revisão de todos os licenciamentos ambientais que afetam os manguezais e seus povos e comunidades tradicionais da Baía do Iguape e que não cumpriram as exigências da Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho ou que não solicitaram a devida autorização à Reserva Extrativista;
- Apoio logístico e financeiro das instituições públicas das esferas municipal, estadual e federal para que os povos e comunidades tradicionais da Baía do Iguape, de forma livre, autônoma e participativa, construam seus Protocolos de Consulta Prévia, Livre e Informada, através de suas organizações comunitárias, com a finalidade de garantir seus direitos e a proteção de seus territórios tradicionais e da biodiversidade associada.
- Implantação de saneamento básico, tendo em vista a crescente contaminação de cursos d’água que desaguam no estuário, associando também à implantação de um programa de saúde da população extrativista, que vem sofrendo alguns problemas (coceira, verminoses, problemas ginecológicos, entre outros) intimamente relacionados às condições ambientais locais.
Representantes do Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape [Bahia, Brasil]